domingo, 19 de outubro de 2014

TANCREDO ACABOU COM UMA DITADURA? Os papéis dos Neves durante o Regime repressivo e o de Dilma Rousseff


Sugestiva e apeladora (e apelativa) a montagem que corre redes sociais afora, com a emblemática frase de efeito : ‘Tancredo acabou com uma Ditadura, Aécio acabará com outra’, mas cabe uma reflexão sobre os papéis sociais exercidos por Tancredo Neves, o seu neto, Aécio Neves (atual candidato à presidência) e Dilma Roussef (adversária de Aécio no atual pleito) durante a vigência da Ditadura civil-militar no Brasil.

Por ter sido o primeiro presidente civil após a abertura política dos anos 1980, eleito por voto indireto (e pela aura que recaiu sobre seu nome dada a circunstância de sua morte e a comoção nacional por ela suscitada) a imagem de Tancredo Neves é associada, no imaginário popular, pelo combate a Ditadura Militar.

De fato, Tancredo integrou o MDB (partido oposicionista ao partido da situação, o ARENA) mas daí elevá-lo ao patamar de herói libertário é incongruente para alguém que jamais denunciou as atrocidades e arbitrariedades encetadas pelos militares, ocupando, durante o Regime, o que era chamada de ala moderada do MDB, os que na oposição evitavam atritos mais acirrados com os governistas.

Talvez essa proximidade com os militares explique a aceitação de seu nome a candidato a presidência em 1985 pelo Colégio Eleitoral, ou alguém teria a ingenuidade de acreditar que os militares permitiriam a indicação de algum ferrenho opositor do antigo Regime? Tudo que eles não queriam era a abertura dos chamados Documentos Secretos (o que ocorreu nos últimos doze anos, quando a elite deixou o Governo).

É emblemática a posição reticente de José Sarney (vice- presidente de Tancredo em 1985) relacionada a abertura dos arquivos secretos, declarando, recentemente, que era melhor deixar esses registros na condição de sigilo eterno: 'Não podemos fazer o WikiLeaks da história do Brasil', afirmou, o ex-presidente da República.

Com a instituição do bipartidarismo, em 1966, Tancredo Neves foi convidado a se filiar ao ARENA, convite recusado pelo fato de seu arquirrival Magalhães Pinto integrar as fileiras do tal  partido (e não porque a ARENA representava o Regime opressivo). No MDB (que daria lugar ao PMDB, com a abertura democrática), Tancredo Neves foi polido e amistoso com os generais-presidentes. Talvez essa relação amigável explique o fato de Tancredo ter sido um dos poucos aliados de João Gourlat a não ter os direitos políticos cassados pelos militares em 1964. Cabe lembrar que Tancredo fora nada mais, nada menos, que primeiro-ministro do governo Jango.

Tancredo Neves nunca entrou na clandestinidade, jamais integrou a luta armada, jamais sentiu na pele os torturantes choques de alta voltagem da opressão e da repressão. Dilma Roussef sim. Enquanto a atual Presidente da República estava na trincheira urbana lutando em prol da democracia e pelo fim da Ditadura. Onde estava Tancredo? Transitando confortavelmente pelos corredores palacianos naquele jogo de faz-de-conta que era a oposição oficial ao Regime Militar. E o neto dele? Onde estava?


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