terça-feira, 22 de abril de 2014

ARTE POÉTICA: Antropotragicamente

É o amor
Essa nuvem de anti-matéria que tudo devora
e a tudo transforma
Esse Abaporu, deglutiu-me e me metamorfoseou
E aqui estou, 'antropotragicamente'
Ao seu dispor


AUTORIA: Ricardo Bispo

ARTE POÉTICA: Porque todo poeta sente um vazio impreenchível


Como o raio rasga o céu
E a adaga rasga um véu
Seu sorriso insípido me rasgou ao meio



Uma de minhas partes desprendeu-se
E flanou... e vagou...Ao sabor da aragem
oriunda dos soluços da outra parte, a que ficou.
Fincada ao chão,
incompleta, inconclusa,chorosa
Saudosa da que partiu feito nuvem
Em trilha irreversível
E diuturnamente a poetizar
Tanto uma, quanto outra
No esforço vão de se recompletar

Mas poesia... a poesia é água cálida

Enche, quase transborda...
E quando julgo plena a borda


Evapora-se...
Evapora-s..
Evapora-.

AUTORIA: Ricardo Bispo

sábado, 19 de abril de 2014

Malhação de Judas, Jean-Baptiste Debret, Rio de Janeiro, sec. XIX


Num sábado de Aleluia


Era um dia de sábado. Ensolarado. Sábado risonho. Sábado festivo. Sábado de Aleluia. Maldito! Traidor! Maldito! O corpo era arrastado com violência pelas ruas de terra de Belém. A corda no pescoço denunciava o seu fim. Seria enforcado. Sem clemência. Munidos de ripas e pedras, arrastavam o corpo inerte. Nuvens de poeira seca se erguiam. Pedriscos e cascalhos saltitavam. Folhas caídas da macieira farfalhavam. Maldito! Traidor! Lincha! Lincha! Berravam num coro de vozes dissonantes. Traíra! Traidor! Lincha! Malha! Uns pisoteavam. Outros tripudiavam. Alguém escarrou. Um outro urinou. Esperem! Cadê o querosene? Esqueci... Pra quê querosene??? Oras, botar fogo no safado assim que terminar o linchamento... Deixa que eu pego o álcool, eu moro aqui perto (interveio o ruivo, de cabelo em caracóis e acnes no rosto ) Então vá! Vá ligeiro. Traga também a caixa de fósforo ou a pederneira... A marcha estancou.Era um dia de sábado. Sábado de Aleluia. No chão imóvel, o boneco-de-judas. Os garotos esperavam o líquido inflamável para atear no ignominioso boneco. Alguém arrancara a foto do rosto de um político corrupto (de uma dessas Veja-isto é- época's que se acumulam nas mesas-de-centro dos consultórios odontológicos) e a colou na face do apóstolo infeliz. Alvo do escárnio e do desprezo dos mais caritativos cristãos por dois milênios... Ofegantes, agitados, impacientes... Esperavam em frente a um sobrado. Do varandão a caixa acústica propagava uma mensagem de reflexão. Era um dia de sábado. Sábado festivo. A voz suave de barítono do locutor da rádio narrava passagens bíblicas tendo ao fundo uma doce melodia. A caixa acústica ditava: Então o Mestre fitou a multidão enfurecida e indagou - há alguém dentre vós que jamais haverdes cometido um erro? Se houver um que nunca cometera um pecado, atirai a primeira pedra..... Os meninos se entreolharam... o ruivo, cabelos em caracóis e acnes no rosto trazia o querosene. Pegara escondido da mãe. Há coisas que garotos não podem ficar manuseando... Dera tempo de ouvir o final da mensagem. Um deles deixou desprender-se do vão dos dedos a pedra que trazia. O outro o pedaço de pau. Um outro um neca de tijolo. E um a um foram se desfazendo de seu arsenal de improviso. O ruivo, o de cabelo em caracóis e acnes no rosto girou sob os calcanhares. Cabisbaixo, balbuciou um 'deixa quieto!'

Era um dia de sábado. Sábado ensolarado nas ruas de terra de Belém. Não Belém da Judeia, Oriente Médio. Belém do Pará, Brasil.
Ricardo Bispo


sexta-feira, 18 de abril de 2014

Comparo a música aos arvoredos...


 Escrevi esse ensaio há uns quatro anos e com a introdução do texto da postagem mais recente, sobre o CD 'Na cadência e na elegância' do Emersoon Ursoo, onde analiso os hits da atualidade de Anitas e Fiuk's da vida me lembrei desse artigo e partilho com você, amigos, dom-mágicos.

Uma reflexão profunda sobre Indústria do Entretenimento, Cultura de Massa, Função do Compositor, Diferença de Bem Artístico e Bem Cultural, tudo sobre a metáfora dos arvoredos.



Comparo a música aos arvoredos, porque, mais do que como obra artística, tenho-a também como um bem cultural. Mas para entendê-la como bem cultural não podemos esquecer-nos de sua dinâmica “emissor-receptor”. O emissor é o compositor, intérprete ou músico. O receptor, o público.

Toda música tem um alvo. O outro. Sob o jugo tirano da mídia, a música é produto de consumo, o alvo é a massa consumidora, que a compra, consome e exige mais, posto que, a ética do consumismo, filho primogênito do capitalismo, é a quantidade.  Nas vias da alta cultura a música é bem artístico, o alvo é o apreciador de obra de arte, que a contempla e ao contrário da massa no afã do consumo desenfreado, não a descarta, pois para ele música não é um bem descartável, a preserva. Ao invés de quantidade, ele almeja qualidade.

Voltando a falar dos arvoredos, a beleza das árvores é a beleza das flores. De suas flores. Os ipês com suas grinaldas brancas, as cerejeiras com suas guirlandas vermelhas. Há ali também uma dinâmica “emissor-receptor”. O emissor é Deus, que por meio da mãe-natureza enfeita as madeixas de árvores e arbustos com adornos floridos, multicores. Os receptores não são os jardins ou bosques, estes são apenas a plataforma para a manifestação de tamanha beleza. Os receptores somos nós humanos que conferimos um juízo de valor ou de gosto à estética das flores.

E é atingindo o receptor que a música deixa de ser bem artístico e se torna bem cultural. Quando ela interfere no outro, o estimula, o diverte, o consola ou o incomoda, e nessa sequência, o influencia. Ao repercutir sobre o meio social se transforma em bem cultural. A música trancada dentro da gaveta, guardada numa pasta, arquivada num drive de mp3 e que não é compartilhada é apenas, e tão-somente, uma criação artística. Não contribui para cultura, não é um bem cultural, simplesmente porque não influencia o meio.

E porque comparo a música as árvores, lembro-me dos lindos manacás que florescem em fevereiro. Nessa época do ano é possível vê-los garbosos, cheios de pompa, tingindo as encostas da Serra do Mar de lilás e cor-de-rosa. Porém, passados alguns meses suas flores murcham, perdem o viço, a vitalidade, a cor. Os manacás já não mais se destacam. Quem quer que suba a Serra e divise a mata densa não poderá distingui-los em meio ao verde e seus dégradés. São assim as músicas passageiras, modinhas de verão, paixões de carnaval, sucessos espontâneos, efêmeros, transitórios. Tais quais aos manacás encantam, mas logo somem sem deixar rastro ou lembrança. São descartáveis.

Belos manacás

A música para influenciar outrem e se tornar bem cultural tem que conter uma mensagem. O emissor deve ter algo a dizer ao receptor ou o seu canto, caso contrário, igualar-se-á ao canto das cigarras, que não tem conteúdo reflexivo, pois cigarras não sabem pensar. O compositor é um formador de opinião. Mas como formar opiniões se ele mesmo não tiver as suas? A música para se tornar patrimônio popular ter que ir além dos “bunda-lelês, baba-babys e rebolations”, essas já nem são manacás, são embaúbas. Árvores grandes, mas, vazias, ocas, inúteis. A polpa muito mole, não presta para lenha, nem pra fazer carvão, tampouco para canoa.

Mas há arvores mais raras, que crescem devagar, vão ficando mais altas, mais altas, mais altas, se distinguindo das outras. Seja fevereiro, seja setembro, pode-se identificá-la. Assinalam florestas mais antigas, seculares e servem de referência a muitas gerações. Sua madeira é nobre, é madeira de lei. É boa lenha, mobília duradoura e embarcação segura. Dá violão e cavaquinho de nobre linhagem. Árvores como a canela, o pau-pereira do campo, o jacarandá e a mais bela e frondosa de todas: a árvores do Samba.






quarta-feira, 16 de abril de 2014

PRA OUVIR: Na cadência e na elegância

Em uma época onde o 'Show das Poderosas' de  Anitta (essa Kelly Key repaginada, tão efêmera quanto o hit 'Baba baby'), é eleita a melhor música do ano num dos programas televisivos de maior abrangência (não digo audiência porque o IBOPE é um instituto fantasma e não sei como medem a frequência de assistência das redes de tevê. Será que dentro de meu aparelho televisor tem algum chip instalado que revela pro IBOPE os canais que sintonizo?). E de quebra se vê um Luan Santana (versão atual do Felipe Dylon) aclamado pela massa.

Tempos desoladores esses para os amantes da boa música?

Sinais dos tempos? É isso que há de novo no panorama sonoro brasileiro? Ontem lek, lek,lek, hoje lepo lepo lepo.

Músicas infantilizadas, com melodias repetitivas, no padrão melódico das cirandas e parlendas. Letras paupérrimas com rimas previsíveis,além das detestáveis onomatopeias e tatibitates (a fala de adulto querendo imitar a pronúncia de crianças, distorcendo o som de algumas palavras).

E os artistas consagrados, então, só sabem regravar regravações?

Não há um sopro de renovação em nosso cancioneiro popular?

Uma luz no fim do túnel do samba urbano?

Nenhum alento no processo criativo de nossos compositores?

Sinais dos tempos?

Não! (Sonoro não).

Tem muita...muita coisa boa, de qualidade sendo produzida. O samba então, fechou 2013 com mais de vintes álbuns novos de tremendo bom gosto (Não confundir com um grupo homônimo, carioca de repertório,digamos, um gosto tanto quanto duvidoso).

Tem Goiabada Cascão em forma de cd na área, sim, tá ai o primoroso 'Na cadência e na elegância' do paulistano Emersoon Ursoo que não me deixa com nariz pinochiano.

Afilhado de Mestre Monarco e de Dona Ivone Lara, de quem é parceiro. Coleciona parcerias com nomes como T-Kaçula, Luis Carlos da Vila, Walter Alfaiate, Milbé, Edvaldo Galdino, Délcio Carvalho, Dorinho Marques, Ricardo Rabelo e Marquinho Dikuã. Foi nos anos 1990 entre encontros de choro e rodas de samba que despontou empunhando o estandarte do samba de raiz,ou samba tradicional, como querem alguns.

Numa época onde muitos de sua idade que portavam cavaquinho ou pandeiro se debandavam, de cabelos oxigenados e roupas 'me-chupe' para o fugaz e incerto sucesso midiático nas ondas daquilo que se convencionou chamar de  'pagode', e também, mui apropriadamente,  sambanejo (canções românticas ou pululantes aos moldes dos sucessos de duplas sertanejas, mas com orquestração de samba).

Nesses idos tempos, Ursoo mandava em Ré Maior: galo que vai atrás de marreco, morre afogado!



Ao optar pela porta estreita do compromisso com o valor cultural, resistindo aos clamores tentadores da sereia-hidra, a mídia traiçoeira, Emersoon Ursoo hoje, amadurecido, como o pinho de um bom e velho 7 cordas, coleciona obras de grande riqueza musical, quer melodica, quer poeticamente.

Me causa espécie quando vejo ele sendo apresentado como grande revelação do samba e um Diogo Nogueira é mostrado como alguém de carreira já consolidada. É o poder da mídia. Revelação como? O primeiro cd da carreira do Ursoo, 'Respeito ao Samba' é de 2002, já o filho do grande João estreou seu cd em 2007.

O álbum 'Na cadência e na elegância' é um convite pra sonhar. Emersoon com sua voz serena, bem postada.Voz de sambista, acalenta quem o ouve. A faixa-título que abre o disco num andamento sincopado ornamentada pelos arranjos exuberantes de Charlie Dief com um naipe de sopro é um convite pra dançar.

A sequência é de tirar o fôlego. 'Encontro das auras' (com Dona Ivone Lara e Luis Carlos da Vila), vai no imo.‘Nota musical orvalhada pelo encantamento’. Como diria Jorge Aragão (e eu não canso de parafrasear) 'rasga a alma com delicadeza'. Um dos sambas mais bonitos que já ouvi.

Mas aí Emersoon maltrata, 'Minha Paz', uma pérola, uma pedra de nácar lapidada a três mãos iluminadas (parceria de Dikuã e do imortal Délcio Carvalho). Música composta há quase uma década e pincelada numa tacada de mestre do artista. O dueto com Flávia Oliveira é magistral. Afinada e cativante, Flávia enfeitou de estrelas o véu dessa canção.

No rastro desse cometa outra obra-prima 'Novo Encanto' coautoria de  Ricardo Rabello e de novo, a poetiza da Serrinha, Dona Ivone Lara. Aí é covardia, Ursoo. Canção de amor que 'vira do avesso e revira o avesso'.Essas três melodias são um convite para contemplação.

'Feito céu antes de chover/ fechado estou depois de te perder'. Com essas linhas sublimes inicia-se 'Tristeza Atroz',a segunda do CD assinada só pelo Emersoon, a primeira é a faixa-título do CD. Samba dolente que vai fundo. Introspectivo. Experiências sensoriais que só música de boa cepa pode proporcionar. Convite pra se emocionar.

Seguindo em sua caneta solitária 'Clausura', samba-canção de Ursoo que remonta à musicalidade genial de Eduardo Gudim: 'Esses meus olhos/ na mandala do destino/viram os teus pelo caminho/ e brilharam sem cessar. Em 'Morena Encantada', com Milbé, uma loa à musa inspiradora. A letra bem no estilo do Ursoo, nada de rima pobre. A linguagem metafórica dão mais beleza e suavidade como nessas passagens: 'tu és uma rosa singela' e 'olhos tão lindos feito esmeraldas'. Convite para se encantar.

Com Dodô Andrade, Anderson Alves e Deley Antonelli, Ursoo compôs a bela 'Lágrimas'.Chamamos atenção à interpretação emotiva do cantor. E com Dorinho Marques, 'Lamento à natureza' um dos pontos altos do cd. Convite pra reflexão.

Fechando com chave de ouro, o lindo samba 'Parceria', parceria com Charlie Dief e Ricardo Rabello, este último divide os vocais com Ursoo. Bela sacada a comparação do encontro da letra e melodia, algo natural como tempestade e trovão, a lua e o céu, a fauna e a flora.


Recomendo.

Copie o link abaixo, cole no navegador e aprecie esse belo CD, além de sambas de outros álbuns de Emersoon Ursoo.

http://palcomp3.com/emersonurso/01-na-cadencia-e-na-elegancia/



quinta-feira, 10 de abril de 2014

E a pensadora foi pro baile... de sainha

Agora está explicado. 

O professor de Filosofia Antônio Kubitshek, do Centro de Ensino Médio 3 de Taguatinga, DF, afirmou que o foco da pergunta na prova sobre a música da funkeira Valesca Popozuda era causar repercussão na imprensa.

O conteúdo que estava sendo estudado era a formação de valores e a influência da mídia na formação desses valores.


Querendo provocar  a turma, como um bom socrático, alcançou o seu objetivo ao qualificar a funkeira como 'grande pensadora contemporânea', o que causou estranhamento nos alunos. 

A afirmação no enunciado da prova gerou um incômodo na garotada, estado de espírito necessário para que se desperte para um pensamento mais reflexivo e aprofundado.

Foi inevitável  da parte dos jovens a ponderação acerca dos critérios para se classificar alguém como um 'grande pensador'. 

Elaboraram, certamente, uma lista mental de grandes pensadores. Os alunos não percebiam, estavam filosofando.

A ex-vocalista da Gaiola das Popozudas se sensibilizou, agradeceu a 'homenagem' e diz que se sentiu honrada ao ser qualificada como grande pensadora, embora recusasse tal título por ser algo muito forte para ela.




Intérprete de pérolas como  'Um otário pra bancar', 'Late que eu tô passando', 'Vira o cu e pede dedinho','Beijinho no ombro', 'Quero te dar', 'A porra da buceta é minha', 'Fiel é o caralho','Agora virei puta','Tô com o cu pegando fogo', e outros hits de fazer corar o Marquês de Sade, Valesca, lisonjeada, não teve a perspicácia de genial pensadora para perceber que o professor a usou de forma irônica. Ele queria apenas provocar a turma e para tanto precisava do exemplo de alguém que fosse tudo, menos um grande pensador da contemporaneidade.

A funkeira carioca já foi  tese de Mestrado, My Pussy é poder A representação feminina através do funk no Rio de Janeiro: Identidade feminina e indústria cultural, na UFF (Universidade Federal Fluminense), em Niterói, onde Mariana Gomes questiona se cantoras como Valesca e Tati Quebra-Barraco são referenciais do feminismo ou, (ao analisar o teor das músicas que apresentam o arquétipo da mulher interesseira), apenas assumem o papel da mulher-objeto, com decotes escandalosos e corpo turbinado atendendo às demandas da sociedade machista.



E fiquemos com a profundidade filosófica da genial Valesca Popozuda:

'Por ela o homem enlouquece
Dá carro, apartamento, joias, roupas e mansão
Coloca silicone e faz lipoaspiração
Implante no cabelo com rostinho de atriz
Aumenta a sua bunda pra você ficar feliz'

Obs: no trecho acima se entende que o homem enlouquecido pela mulher se torna um travesti? Pois diz que ele dá carro, apê, roupas, joias e mansão, e que ele coloca silicone e faz lipo, põe implante capilar para parecer uma Bruna Marquesine da vida.E o cara enlouquecido coloca próteses nos glúteos causando inveja à Mulher Melancia







terça-feira, 1 de abril de 2014

Foi um Primeiro de Abril


Está em fase de acabamento o livro onde relaciono sambas de Nei Lopes com conteúdos da disciplina de História. 


Coloco minha visão de pedagogo (não sou historiador), mas ponho também a visão de compositor, porque gosto quando um compositor fala de outro. 

Há uma idiossincrasia em comum, uma intersubjetividade que só quem é compositor consegue entender. É de poeta para poeta. O que uns chamam de 'papo de compositor'. 

Por isso também logo no início do livro mostro poetas consagrados falando da pessoa do Nei: Aldir Blanc, Zeca Pagodinho, Hermínio Bello de Carvalho.

A ideia do livro, que se chamará O ABC DE NEI LOPES: o samba na sala de História surgiu à época em que eu e Renata Carvalho de Sousa Freitas, efetuávamos uma pesquisa a ser aplicada em nosso Trabalho de Conclusão de Curso para a Licenciatura em Pedagogia,“Na cultura afro-brasileira uma aplicação: o samba que se aprende na escola (uma estratégia didática voltada ao ensino fundamental)”. 

Foi impressionante a quantidade de sambas de Nei Lopes em nossa lista, figurando em quase todas as disciplinas da grade curricular, principalmente Língua Portuguesa e claro, História.

Quem quer que tenha o privilégio de conhecer pessoalmente o Nei captará uma aura professoral a lhe envolver.

E esse ar de educador eu já tinha percebido nele, via email, antes de conhecê-lo pessoalmente. Bem antes de surgir a ideia de escrever um livro paradidático calcado em sua obra.

Como de costume, partilhei com ele a letra de um samba que eu acabara de compor e ele, com um didatismo próprio dos mestres, corrigiu o refrão,onde eu dava uma escorregadela cacofônica. O nome do samba é 'Primeiro de Abril', e o refrão em  forma de dístico era esse:

'Num primeiro de Abril
Quem aqui nunca caiu?'

Veja trecho do email enviado pelo Mestre:




Veja como ficou o refrão depois da dica do educador Nei Lopes e aproveitem analisem a letra do samba na íntegra:


Num primeiro de abril
Todo mundo já caiu               BIS
Num primeiro de abril
Todo mundo já caiu

Agraciado pelas mãos da natureza
Berço esplêndido, sem catástrofes e sem peste
E o que dizer da dengue e febre amarela
Deslizamentos e da seca do Nordeste


Apascenta sua rês com outra cantiga
Porque essa é muito antiga
Qual rebanho vai dormir?                                    REFRÃO
A sua ideologia é pura simbologia
Chegou a vez de se assumir

            BIS

Viver nesse país é tão legal
Vigora a tal democracia racial
Peguei meu carro importado, saí para dar um rolé
Me perguntaram se eu era o chofer
     
  REFRÃO/ BIS

Mas a índole mansa e pacífica
Dessa gente sem um gene violento
Votaram numa atitude cívica
Disseram “não” para o desarmamento

        REFRÃO