quarta-feira, 24 de julho de 2013



Forrobodó do bom no Céu

Nascido em 1941, na cidade de Garanhuns,Pernambuco,  José Domingos de Morais, o popular Dominguinhos deixará saudades numa época em que a musicalidade brasileira está cada vez mais descaracterizada, atendendo ao padrão pop imposto pela indústria do entretenimento de massas, ficando no mesmo formato de hits sul coreanos (Psy), colombianos (Shakira)e claro, norte americano. 
Músico da estirpe de Sivuca e da de Oswaldinho do Acordeon. Fiel discípulo de Luis Gonzaga, genial, Dominguinhos deixou pérolas como De volta pro meu aconchegoIsso aqui tá bom demais e Eu só quero um xodó


Descanse em paz, Dominguinhos, homem da sanfona mais musical e mais sorridente que o Brasil já conheceu  

sábado, 20 de julho de 2013

domingo, 14 de julho de 2013

Minha pátria, minha língua

O menininho português visitava pela primeira vez o Brasil (não, não é piada tirando sarro dos portugas). E junto da mãe pegou um taxi no aeroporto. O rádio sintonizado numa dessas FM's despejava a programação de sua grade musical.

"Eu quero tchu, eu quero tcha
Eu quero tchutchatcha..."

" Uh tererê, uh tererê..."

"O rebolation- tion, o rebolation-tion..."

"Tcherere tchê tchê, tchereretchê
Tchê, tchê, tchê..."

"Cintura, cabeça, tchu bira biron..."

"Lê lê lê, lê lê lê
Se eu te pegar você vai ver..."


Ai o menininho encasquetado, indaga sua mãe:

- Será que os brasileiros falam outra língua além do português???




terça-feira, 9 de julho de 2013

Pipa, esconde esconde, na internet

Aberta temporada de pipas e papagaios no céu com suas rabiolas suntuosas.
 Aqui na minha rua não tem um só moleque debicando as suas pipas.
É só marmanjo barbudo.
Perguntei: cadê a molecada?
 Estão ali na lan house, responderam, ô lôko!

Lembrei de um samba dos grandes Luis Carlos da Vila e Moacyr Luz, Pique esconde na internet, gravado pelo Pedro Miranda:

 Eu nunca joguei bola/
Nunca andei de patinete/
O quintal da minha casa/ c
Cabe dentro da internet




SE O OBAMA FOSSE BRASILEIRO


Se o Obama fosse brasileiro não seria senador
Muito menos presidente
Não seja inocente, faça-me o favor                                                          
Se ele fosse boleiro, seria um bom jogador
Mas quando se aposentasse, Obaminha, não seria treinador

BREQUE - Chofer de donzela na telenovela se fosse ator!

Parentes residentes em aldeia queniana
Que recentemente Obama encontrou
Fosse aqui não teria prosa
Pois seu Rui Barbosa, papéis da escravidão, queimou
Lá ele é presidente, é alta patente, ele é que manda
Mas se ele nascesse aqui não seria nem presidente de escola de samba


Se o Obama fosse brasileiro não seria senador
Muito menos presidente
Não seja inocente...

BREQUE – Talvez com sorte invertesse tal situação, pois toda regra tem a sua exceção!

Usar distintivo, ser executivo ou cirurgião, não pode!
No máximo alcançar a fama
Juntar uma grana cantando pagode
Analisando com frieza, mas que baita covardia
Um monte de Obama da Silva, dos Santos
Na guarita de uma portaria


AUTORIA: Ricardo Bispo










terça-feira, 2 de julho de 2013

NA MADRUGADA DE UM DOMINGO CHUVOSO

 Conto vencedor da etapa municipal do Mapa Cultural Paulista 2013/14, por São Vicente



Norton despertou num sobressalto. Que explosões seriam aquelas? Seria um pesadelo? Chovia ainda? Sim. Tateou o criado-mudo à cata do celular. A luz de LED do visor do telefone iluminou momentaneamente o quarto. Duas da manhã e ainda chovia. Caracoles! E chovia forte – o ritmo das bátegas da chuvarada que percutiam sobre o toldo da lan-house lá embaixo lhe confidenciava. Teria que voltar a dormir. Levantaria às sete. Levantar de manhã em pleno domingo é dose pra leão doido. Ainda mais um domingo chuvoso. Domingo friento.

Era chuva de vento. A porta galvanizada de uma estamparia, noutro quarteirão, arfava ruidosamente ao ser distendida pela ventania incessante. Boom! A mesma explosão do sonho. Não! Não era sonho. Não era explosão. Norton se lembrou, e lamentou, a porta do banheiro do andar debaixo que esquecera destravada e agora se debatia aos influxos da corrente de ar. Bah! Nada nesse universo lhe retiraria do quentinho aconchegante daquele edredom. A sinfonia percussiva da chuva prosseguia lá fora. Aprazível e hipnotizante. Relaxante, tamborilando sobre o toldo de policarbonato da lan-house. Como é gostoso dormir com o barulho da chuva. Faltava apenas ela. Ali naquela cama! Agarradinhos em conchinha, pés entrelaçados, os caracóis de seus sedosos cabelos ora lhe afagando, ora lhe fazendo cócegas, ora lhe sufocando. Sob a harmonia melódica da chuva... Boom! A bendita da porta!!!

Impossível pegar no sono novamente com aquele bate-bate intermitente. Ok, você venceu, batatas fritas! Norton ergueu-se, contrafeito, cambaleante, envolto na colcha, caçando com os pés a sandália embaixo da cama. Ah, vou só de meia mesmo, decidiu. Raios riscavam o céu e seus clarões se acendiam na parede do quarto, oposta à janela, como se fossem flashes fotográficos. Largou a colcha sobre o leito desgrenhado e vestiu o velho  casaco que pendia da cabeceira da cama. Desceu as escadas zonzo como um morto-vivo, trancou a porta deselegante e voltou pro quarto. Pôs-se a espiar, pelos vãos da persiana, a rua desértica lá fora.

Desembaçou o vidro opaco da janela com uma das mangas do casaco. Constatou, de encontro à luz do poste, a intensidade da chuva que, compacta, caía em diagonal.

Rasgando a solidão daquela rua a carcaça de um guarda-chuva passou tropicando aos safanões da ventania. As abas esvoaçantes do tecido preto que se desprenderam das varetas tremulavam no ar à imagem de um batman arrastado pela ira de um tufão. Herói impotente. Guarda-chuvas destruídos em meio a um temporal são como heróis impotentes.

Norton semicerrou os olhos e percebeu, lá longe, na orla da praia, o vulto das palmeiras pescoçudas envergadas pelo vendaval. Imaginou a bandeira gigante do Brasil com seus mais de cem quilos estufando, como um lenço de abano, no mastro imponente no pico do Morro dos Barbosas. De volta a sua rua, o facho luminoso dos postes incidia sobre o asfalto molhado e taciturno e estendia uma faixa prateada, como se alguém desdobrasse no chão uma trilha de papel laminado picotado.

Entrecortando o zunido do vento o traquetralaque de uma latinha de cerveja vazia ou de refrí que vinha em cambalhotas, também arrastada pelo vento, se intensificou. Traquetralaque, traquetralaque. Vinha de longe. Do balcão de uma bodega noturna talvez. Traquetralaque, ou talvez de algum inferninho carregado de fumaças de cigarro, de berros orgíacos de despudoradas mulheres. Berros abafados pelo silêncio solitário de um poeta noctívago. Ou talvez de uma festa chata, pois festas em noite de temporal são chatíssimas. Traquetralaque.

Norton deitou-se na cama. Revirou-se na cama. Olhou o porta-retratos sobre o criado-mudo. 
Olhos ermos e tristes como as luzes solitárias da Ponte Pênsil que iluminava a Baía de São Vicente na escuridão liquefeita daquela madrugada. No porta-retratos ela. Sua Vênus de Milo. Sua Vênus Williams. Ali, na cama, só faltava ela.