sábado, 27 de dezembro de 2014



"Eu e o meu violão
Vamos rogando em vão
O seu regresso...
Se soubesses como choro
E como peço
Pra que o nosso fracasso
Se transforme em progresso"

FESTA DA VINDA, Cartola


sábado, 20 de dezembro de 2014

LUXUOSOS TRANSATLÂNTICOS - Nei Lopes e Cláudio Jorge



“Em luxuosos transatlânticos
Os negros vinham da África para o Brasil
Gozando de mordomias faraônicas
Chegavam aqui com ar fagueiro e juvenil
E mal desembarcavam lá no porto
Com todo conforto
Em luxuosas senzalas iam se hospedar
Tratados a pão-de-ló, comendo do bom e do melhor
Levavam a vida a cantar
Lalaiá laia, lalaiá laiá, laia laia laia
Nos campos e nas cidades
Nos tempos que não voltam mais
Reinava a mais perfeita harmonia
Tudo era alegria, amor, carinho e paz
Até que exóticas ideologias fizeram o cativeiro acabar
Mas a índole mansa e pacífica
Dessa gente magnífica fez o negro se recuperar
Hoje no Brasil da liberdade
Onde tudo é igualdade
Sem distinção de raça e nem de cor
O negro agradecido ergue aos céus o seu louvor
Ô ô ô ô! Ai que saudades dos carinhos do feitor

(Obrigado Isabel)”

Copie o link, cole no seu navegador e aprecie esse samba na voz de Nei Lopes:  https://www.youtube.com/watch?v=uWc4BkU293w



sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014


NA ESTANTE: O Último Negro - Durval Arantes


SINOPSE

Em ritmo de thriller, O Último Negro, Editora Vermelho Marinho, narra fatos que se desenrolaram no Brasil e no Estados Unidos, com origem em um incidente ocorrido em 1976 e relatado casualmente a um jovem repórter de jornal. Encobertas até então por um motivo inimaginável, e mantidas em segredo por muitos anos, revelações extraordinárias vêm à tona em meio a um embate étnico-universitário envolvendo estudantes negros e brancos.

 O desabafo casual de uma socialite paulistana desperta o instinto investigativo do repórter, que acaba por desenterrar fatos escondidos do passado. Robusto, com mais de 50 capítulos, o livro traz em seus personagens a proposta de contribuir para uma melhor compreensão do que foi a Diáspora Africana e quais foram os seus reflexos na formação das duas maiores Nações com populações afrodescendentes das Américas.




Cole e copie em seu navegador o link abaixo e curta o vídeo oficial do lançamento do belo livro, realizado na Livraria Cultura, 18/11/2014.

https://www.youtube.com/watch?v=S9S1RCm8shk&feature=youtu.be

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

sábado, 29 de novembro de 2014

Preços promocionais vão até hoje, 30/11

Pré-visualização  de Espelho Opaco de Narciso, disponível no site da Editora.



Saboreie as primeiras 18 páginas de meu mais recente livro.

Copie no link abaixo, cole no navegador e leia um trecho:

https://www.clubedeautores.com.br/book/176664--ESPELHO_OPACO_DE_NARCISO#.VHp6sjHF8cA


MUSIKANDO




DEUSAS DO ÉBANO



sexta-feira, 28 de novembro de 2014


Promoção até dia 30/11

 Black Friday no Clube de Autores

Nosso livro em promoção

























Adquira o seu: www.clubedeautores.com.br

Esse povo precisa ouvir Racionais


Tá na área o mais novo cd do grupo de rap paulistano Racionais MC’s – Cores e Valores, o 8º da carreira. Gravado no Quad Recording  Studios e mixado no Brevery Recordind Studio, Nova Iorque (EUA) foi lançado após um intervalo de 14 anos. O anterior foi o Nada como um dia após o outro (Coisa Nostra, 2002).


Do ponto de vista melódico e de arranjos sobressai a faixa 11, O Mau e o Bem (de Ice Blue e Don Pixote), a letra de Quanto vale o show?, faixa 13 (de Mano Brown), uma viagem pela década de 1980, remonta aos bons tempos de Racionais. 

É de lamentar as faixas breves como se fossem vinhetas, por exemplo, as faixas 3 e 4 têm 37 e 24 segundos, respectivamente. Tanto tempo sem lançar um álbum - os primeiros trabalhos fonográficos do quarteto tinham poucas músicas, porém mais extensas, ansiava-se por mais. A faixa mais longa é a já citada O Mau e o Bem com 4:59. O tempo de fruição do disco é tão rápido que você duvida já ter tocado as 15 faixas do cd.

Sobre o estilo dos Racionais, é isso mesmo, música engajada com a denúncia social com o vocabulário da periferia. Porta-vozes dos oprimidos. 

O tom de indignação na voz dos intérpretes, vejo como mais um elemento identitário caracterizando o teor reivindicatório/ denunciatório da proposta musical do grupo.



Pensando bem, num cenário que tende a se homogeneizar pela égide da indústria cultural de massa que visa só o entretenimento, como é o panorama musical brasileiro na atualidade, é salutar essa diversidade.

É bom termos Racionais.

Esse povo precisa ouvir Racionais!

No link do youtube confiram a faixa 11, o Mau e o Bem:

https://www.youtube.com/watch?v=1CoNBU8xvQU


SAIU DO PRELO: Meu primeiro livro de poesia ESPELHO OPACO DE NARCISO


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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

DIREITOS IGUAIS! QUEREMOS O DIA DA CONSCIÊNCIA BRANCA

Chega a ser ridículo alguns questionamentos sobre o porque não se ter um Dia da Consciência Branca. Não há razões plausíveis para uma CONSCIENTIZAÇÃO branca. O mito das 3 Raças, onde brancos-índios-negros ergueram o país é mais uma falácia (dobradiças simbólicas para amortecer atritos sociais).

O tratamento desigual racial que privilegia o elemento europeizado, por ironia, se consolidou no mesmo documento que fundou o mito das 3 raças. O berço desse mito foi no Instituto Histórico-Geográfico do Brasil, fundado em 1838, sob a influência da escola historiográfica alemã, cujo um dos ícones é Friedrich Hegel (o mesmo que afirmou que a África não era interessante do ponto de vista histórico). O IHGB realizou um concurso sobre a tarefa do historiador que fosse redigir a história brasileira. O vencedor foi o alemão Von Martius, cuja monografia “Como se deve escrever a história do Brasil”, publicada em 1845, listava entre os itens que norteariam a confecção da história oficial do Brasil uma ênfase nas três raças, dando predominância ao português, aquele que imprimiu suas marcas de moralidade no país. 

Coube a realização dessa história a Francisco Adolpho de Varnhagen, considerado então o fundador da historiografia nacional com a publicação de História Geral do Brasil entre 1854 e 1857 o que influenciaria os manuais escolares e livros didáticos, chegando até os dias atuais. Nos Livros de História, o índio aparece quando a Esquadra se Cabral atraca e depois some das páginas. Com negros o processo se repete, aparecem no período que trata da Escravidão, com aquelas ilustrações do Debret retratando-os em situações degradantes, tudo muito educativo para a construção da autoestima de alunos negros e alteridade dos alunos não-negros, e desaparecem da História. 


Um dos principais romancistas da atualidade, Alberto Mussa aponta para um costume que naturaliza o elemento de aspecto fisionômico europeu num recurso chamado em Linguística, antigamente, de ‘elemento marcado’, aquilo que “tinha que ser dito”, caso contrário, julga-se outra coisa. A naturalização da branquitude induz, por exemplo, que todo personagem histórico é branco, quando surge um elemento negro, o que é uma excepcionalidade.  ele dever ser marcado, tipificado, senão, se presumirá que se trata de um personagem histórico branco. O adjetivo ‘negro’ aparece quando se fala de Aleijadinho, José do Patrocínio e de João Cândido,mas o ‘branco’ é dispensável quando se fala de José Bonifácio, Castro Alves ou Carlos Chagas. Zumbi é apresentado como líder negro da Revolta de Palmares e Tiradentes apenas como o líder da Inconfidência Mineira. Sem se falar quando se nega a condição de negro a sujeitos históricos como o engenheiro André Rebouças, a compositora Chiquinha Gonzaga e o escritor Machado de Assis, apresentados com o termo difuso ‘mestiço’, como uma espécie de eufemismo. O termo ‘negro’ é discriminado (nas duas acepções) e passa a ser usado como um marca-texto.

Mussa ressalta que em nossa literatura também opera essa obrigatoriedade de se aludir à característica étnica quando o sujeito da narrativa é negro, efeitos da naturalização da branquitude na psique do brasileiro. Mussa cita: “pegue os grandes autores: José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa. Os melhores. Você vai ver neles esse procedimento. É o personagem Fulano, o Sicrano e, na hora que aparece o preto, é o “preto Alguém”. E dali a pouco, esquece-se o nome do personagem e ele passa a ser só o “o preto”, ou “o mulato”. Não é possível. A gente tem que encontrar outra forma de tratar disso”.

Reflexos da cultura hegemônica eurocêntrica.

O texto abaixo fechamos nossos apontamentos sobre o tema.

MAS PRA QUÊ CONSCIÊNCIA NEGRA?


Imagine-se chegando de viagem numa grande cidade a noite. Após deixar o avião, toma um táxi e ruma para um hotel. Um luxuoso hotel. Chegando ao referido estabelecimento você fica sabendo que há leitos disponíveis, porém não permitirão a sua entrada.  Razão: a cor de sua pele.

Foi o que ocorreu com duas mulheres negras em 1951, barradas numa noite fria de junho por funcionários de um hotel paulistano. Só que a coisa fedeu, as vítimas eram duas cidadãs estadunidenses: a soprano Marian Anderson, famosa cantora e militante pelos direitos dos negros nos Estados Unidos e a renomada bailarina, coreógrafa e etnógrafa Katherine Dunham, considerada a “mãe” da dança moderna, mais tarde, mentora de Mercedes Batista, a pioneira da dança afro no Brasil. Chamaram a autoridade policial. Nada se pôde fazer. Não havia lei que punisse discriminação racial no país. Why? Como assim? Oh my God! O país com maior população negra fora da África não tinha uma legislação sobre agressões raciais?

E o assunto deu pano pra manga. O estardalhaço das artistas afro-americanas, repercutiu lá fora, causou um mal estar diplomático e no mês seguinte, a toque de caixa o deputado mineiro Afonso Arinos, da UDN (União Democrática Nacional), apresentou, mais por motivações políticas do que questões humanitárias, um projeto de lei que incluía ofensas de ordem racial entre as contravenções penais sendo promulgada em 03 de julho de 1951 por Getúlio Vargas (o mesmo a quem Arinos pediria a renúncia num duro pronunciamento, duas semanas antes do fatídico suicídio no Catete).

A primeira lei de combate ao racismo no Brasil – aprovada mais de meio século após a abolição, acabou levando o nome de um político conservador, pouco alinhado com o clamor dos movimentos sociais. Embora já imortalizado por causa da tal lei, o também escritor Afonso Arinos, sete anos depois, em 1958, vestiria a farda de imortal da ABL.

Porque nada foi feito antes sobre a questão do racismo recorrente no país. Por que foi preciso que negros norte-americanos, já calejados com essas situações segregativas e excludentes, sofressem numa noite, o que brasileiros sofriam no dia-a-dia por séculos. A resposta a essas perguntas é a mesma. Faltava ao negro brasileiro um ingrediente: CONSCIENTIZAÇÃO.

É claro que muitos negros bradavam contra opressão racial cotidiana no Brasil. E isso, bem antes da Lei Áurea. As autoridades tratavam com mais discriminação quem as procurasse. A mídia não dava voz a essa camada da população e o discurso espúrio de ‘é apenas impressão de sua parte, no Brasil não há racismo’ era a amordaça oferecida. A Lei Afonso Arinos só foi sancionada por causa da visibilidade internacional do ocorrido, mais como um amparo legal contra os ‘esporádicos’ casos de agressão racial, tratados sempre como casos isolados.

Chamamos a atenção para a postura de Duhan e Anderson, encarando como inadmissível aquela ocorrência. Pelo fato de não lerem em português, acaso o táxi passasse pelas ruas do Bixiga, região central de São Paulo, não perceberiam os cartazes em muito sobrados com dizeres: ALUGA-SE QUARTOS, MENOS PARA PRETOS, ou VAGAS PARA EMPREGO – PESSOAS BEM AFEIÇOADAS, (sabemos do teor racista dos critérios dessa boa feição) placas dessa natureza podiam ser vistas até o início dos anos de 1980.

Foi erguida toda uma estrutura para que o negro não tivesse CONSCIÊNCIA de sua condição adversa. E de seu valor, de seu poder, daí as campanhas contínuas com respaldo do Governo de depreciação de tudo aquilo que caracterize o negro e suas origens, demonizando e inferiorizando todos os aspectos culturais identitários, desde os Códigos de Conduta do Brasil Império, até os meados do século XX. Sim, existe a pertinência de se ter uma data para celebrar a CONSCIÊNCIA negra no Brasil.

Nessa semana, como em anos anteriores, espocaram via internet nas redes antissociais, os mesmos comentários questionando do porquê de haver dia e a Semana e o Mês da CONSCIÊNCIA negra.

‘Ah, seria melhor Dia da Consciência Humana’

‘Se fosse Dia da Consciência Branca seria racismo’

‘Consciência Negra é todos os dias’

Essa última repetida por alguns setores do Movimento Negro (muitos ainda se enganam e encaram as movimentações coletivas como grupos homogêneos). Nessas frases acima se verifica o temor de uma segregação (o mesmo temor dos anti-cotistas e de setores conservadores da sociedade, nos idos de 1950, se rebelando contra a Lei Afonso Arinos e seus desdobramentos). 


Nos dias correntes há uma ala conservadora que levanta o mesmo argumento a cerca da Lei que instituiu a obrigatoriedade do ensino da História e da Cultura da África e afro-brasileira em todas escolas, como a reivindicação estapafúrdia de se querer o ensino da História da Itália, da Alemanha, do Líbano e do Japão, pois imigrantes desses países deram seu contributo no mosaico cultural brasileiro. Reações contrárias em jornais influentes e em pronunciamentos no Congresso acompanham toda e qualquer, e mínima conquista da população negra. Desde a Lei do Ventre Livre até os recentes Editais para Produção Cultural do Ministério da Cultura, passando por leis como a descriminalização do candomblé, de autoria do deputado Jorge Amado, pelo Partido Comunista ou a Lei Caó, que retirava a injúria racial do patamar de simples contravenção e a elevava a crime inafiançável e imprescritível e as Políticas de Ações Afirmativas.

 O que mais impressiona é a permanência do discurso que se repete ‘os negros querem regalias’, ‘há assuntos mais sérios para debater’, ‘os negros adoram o papel de vítimas’, ‘isso irá dividir o país’, e a melhor: ‘mas, isso fere a Constituição’, que pregava que todos os brasileiros eram iguais, argumento esquecido quando se legislava para restringir os direitos dos mesmos negros.

Esses comentários engraçadinhos sobre o feriado da Consciência Negra (brasileiro é o povo que mais adora feriado, e se puder enforcar um dia a mais, prolongando o fim de semana, melhor ainda, curiosamente, reclama por mais um feriado - o único que gera reclamação) revelam um desconhecimento das razões de se arrogar no Brasil uma CONSCIENTIZAÇÃO dos negros, induzidos por muito tempo a alienação e negação, muitas vezes em níveis inconscientes e subliminares, dos elementos de sua identidade. 

Ignoram também que num país multicultural, formado por diferentes grupos étnicos, cada qual tem suas especificidades, cada qual tem a sua demanda e cada qual tem o seu percurso. E é conhecendo o percurso histórico da condição do negro e descendente no tecido social brasileira é que se poderá se expressar com razoabilidade, fugindo das escaramuças do senso comum que reproduz teoremas dos achólogos de cátedra.

Muitos os fazem sem maldade, vejo pessoas de bem e instruídas, mães e pais de família que sem perceber estão introjetando aos jovens filhos, que a tudo, acompanham, valores deturpados, fomentadores de intolerância. Muitos desses bons cidadãos (se expressar é um ato de cidadania) não tiveram a chance de estudar a História e a Cultura afro-brasileira e desconhecem os mecanismos adotados pela nossa sociedade para ‘embraquecer’ a face negra do Brasil, embalada pelo mito da harmonia racial, enaltecendo a mistura de raças e policromia do povo brasileiro (mistura que não se dava e nunca se deu nos altos escalões do poder, não interditados aos com feições caucasianas).



Talvez por viverem num país onde a tensão racial é explícita, Marian Anderson e Katherine Dunham estavam conscientes dos mecanismos acionados pela exclusão racial. Talvez por isso tenha causado estranheza ao ator Morgan Freeman (justo ele que tem como nome  o epíteto  Freeman/ homem livre, dado nos Estados Unidos a escravos libertos, o correspondente ao nosso preto forro) a pergunta sobre o Mês da CONSCIÊNCIA Negra. Para um negro americano isso não tem cabimento. Pra quê celebrar, pra quê datar algo que já está arraigado organicamente no interior de cada negro. Eles vivem dia a dia, desde o berço, a CONSCIÊNCIA negra.
  
 Sim, o Dia da CONSCIÊNCIA  NEGRA é uma conquista.


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O cineasta Shelton Jackson, mais conhecido como Spike Lee e os Racionais MC's



SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA



'Olha nosso povo aí
Conjugando no presente
O verbo RESISTIR'

O NOSSO NOME: RESISTÊNCIA!


Zé Luiz do Império, Sereno e Nei Lopes


sábado, 8 de novembro de 2014

Essa tese dá samba. VOTEM


A tese de doutorado de Juliana Barbosa (Nelson Sargento e a cultura do samba: aspectos da criação artística) é finalista no Prêmio Edison Carneiro, na categoria Melhor Tese de Samba e Carnaval. Agora é a fase de recomendação popular. 

Para dar o seu voto, acesse o link abaixo, clique em "Gosto" e depois em "Partilhar".

 Seu comentário também é bem-vindo!

 http://www.portaldocarnaval.net/premio/resultado/tese/149-juliana-barbosa.html


terça-feira, 4 de novembro de 2014

SUJOS CORAÇÕES

Ainda meditando sobre a deplorável reação de alguns setores de nossa sociedade após o segundo turno das eleições presidenciais colocando o povo do Nordeste como a caixa de pandora social do Brasil.

 Em época de insatisfação coletiva, a História nos diz, mormente, núcleos reacionários elegem grupos para responsabilizar pelas mazelas sociais num processo de percepção seletiva, coletiva, de auto-absolvição, modus operandis caro as setores da ultra-direita, como recente onda xenófoba na França mirando árabes e africanos, nos Estados Unidos, contra árabes e latinos e o exemplo mais singular e lamentável, dos nazistas e os judeus.

 Falando em nazismo, lembramos da 2ª Grande Guerra e do livro-reportagem de Fernando Morais (Corações Sujos) que por coincidência passará agora, às 22H no Canal Brasil a adaptação cinematográfica do livro, segue um trecho da página 54:


"(...) Por razões que os imigrantes japoneses não conseguiam entender, tinha virado mania em São Paulo atribuir a eles a culpa por todas as privações que a guerra estava impondo aos brasileiros. Quando começou o racionamento de alimentos, por exemplo, os jornais jogaram a culpa nos japoneses (...) Só faltava eles serem responsabilizados pelo torpedeamento dos navios brasileiros feito por submarinos alemães. Mas nem isso tardaria a acontecer"

Como diria Guimarães Rosa em 'Sagarana': os tempos se seguem e parafraseiam-se.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O XEQUE-MATE EM AÉCIO NEVES

Não foram os nordestinos!

Foi a inabilidade de Aécio em fazer migrar pra si os eleitores de Marina Silva, somados ao desempenho pífio no estado do Rio de Janeiro (onde morou) , igualmente em sua terra natal  (onde governou por duas vezes, foi senador, fez do desconhecido Antonio Anastasia governador e agora, esse ano, senador), além de erros estratégicos pontuais durante a campanha, como por exemplo, o anúncio prévio de Armínio Fraga como futuro ministro (tiro de escopeta que saiu pela culatra), e outras apostas equivocadas que fizeram Aécio Neves perder a eleição. Não os eleitores dos estados nordestinos.

Se a diferença entre Dilma e Aécio foi de 3,4 milhões e o total de abstenções,  votos nulos e brancos somaram os expressivos 30 milhões (equivalente a dez vezes mais a quantidade de votos que o separou de Dilma), fica evidente que faltou ao candidato tucano argumentos convincentes para que esse montante de eleitores que não votaram nem nele e nem em Dilma, acreditassem em seu projeto de mudança e melhoria no cenário social brasileiro.

Culpar eleitores do Nordeste do país é atitude simplista (alem de preconceituosa) e ignora-se que a derrota de Aécio responde a muitos fatores. O resultado das urnas causa, aos perdedores, inevitável sensação de frustração, isso é comum e natural, mas, como demonstrou Sigmund Freud, um dos mecanismos do ego para lidar com a frustração é a agressividade.

Parafraseando o filósofo Epicuro: ' quer conhecer Fitocles? Deixe que ele experimente o amargo fruto da contrariedade'




Em tempo, o programa de transferência de renda condicionada que parece motivar a onda de intolerância aqui no Tucanistão, deveria ser motivo para uma votação mais irrisória do candidato psdbista, por coerência, oras, Aécio Neves anunciou por mais de uma vez nesse segundo turno que não só manteria o Bolsa Família, como ampliaria, além de, em meios a elogios, arrogar a paternidade do Programa ao seu partido.

 Nem todo nordestino recebe Bolsa Família, nem todo nordestino votou na Dilma, tem paulista, gaúcho, carioca, mineiro, catarinense, goiano que recebe.

Enfim, Aécio foi ineficaz em tirar proveito dos 38% de reprovação do Governo Dilma, registrado há quatro meses, em junho (o maior índice de seu mandato), e nem do desejo de mudança  de 70% de brasileiros, cravejado no fim do ano passado.

Não foram os nordestinos, Aécio.

domingo, 19 de outubro de 2014

TANCREDO ACABOU COM UMA DITADURA? Os papéis dos Neves durante o Regime repressivo e o de Dilma Rousseff


Sugestiva e apeladora (e apelativa) a montagem que corre redes sociais afora, com a emblemática frase de efeito : ‘Tancredo acabou com uma Ditadura, Aécio acabará com outra’, mas cabe uma reflexão sobre os papéis sociais exercidos por Tancredo Neves, o seu neto, Aécio Neves (atual candidato à presidência) e Dilma Roussef (adversária de Aécio no atual pleito) durante a vigência da Ditadura civil-militar no Brasil.

Por ter sido o primeiro presidente civil após a abertura política dos anos 1980, eleito por voto indireto (e pela aura que recaiu sobre seu nome dada a circunstância de sua morte e a comoção nacional por ela suscitada) a imagem de Tancredo Neves é associada, no imaginário popular, pelo combate a Ditadura Militar.

De fato, Tancredo integrou o MDB (partido oposicionista ao partido da situação, o ARENA) mas daí elevá-lo ao patamar de herói libertário é incongruente para alguém que jamais denunciou as atrocidades e arbitrariedades encetadas pelos militares, ocupando, durante o Regime, o que era chamada de ala moderada do MDB, os que na oposição evitavam atritos mais acirrados com os governistas.

Talvez essa proximidade com os militares explique a aceitação de seu nome a candidato a presidência em 1985 pelo Colégio Eleitoral, ou alguém teria a ingenuidade de acreditar que os militares permitiriam a indicação de algum ferrenho opositor do antigo Regime? Tudo que eles não queriam era a abertura dos chamados Documentos Secretos (o que ocorreu nos últimos doze anos, quando a elite deixou o Governo).

É emblemática a posição reticente de José Sarney (vice- presidente de Tancredo em 1985) relacionada a abertura dos arquivos secretos, declarando, recentemente, que era melhor deixar esses registros na condição de sigilo eterno: 'Não podemos fazer o WikiLeaks da história do Brasil', afirmou, o ex-presidente da República.

Com a instituição do bipartidarismo, em 1966, Tancredo Neves foi convidado a se filiar ao ARENA, convite recusado pelo fato de seu arquirrival Magalhães Pinto integrar as fileiras do tal  partido (e não porque a ARENA representava o Regime opressivo). No MDB (que daria lugar ao PMDB, com a abertura democrática), Tancredo Neves foi polido e amistoso com os generais-presidentes. Talvez essa relação amigável explique o fato de Tancredo ter sido um dos poucos aliados de João Gourlat a não ter os direitos políticos cassados pelos militares em 1964. Cabe lembrar que Tancredo fora nada mais, nada menos, que primeiro-ministro do governo Jango.

Tancredo Neves nunca entrou na clandestinidade, jamais integrou a luta armada, jamais sentiu na pele os torturantes choques de alta voltagem da opressão e da repressão. Dilma Roussef sim. Enquanto a atual Presidente da República estava na trincheira urbana lutando em prol da democracia e pelo fim da Ditadura. Onde estava Tancredo? Transitando confortavelmente pelos corredores palacianos naquele jogo de faz-de-conta que era a oposição oficial ao Regime Militar. E o neto dele? Onde estava?


terça-feira, 30 de setembro de 2014

A Bíblia, Questão de Gênero e a Intolerância

Penso que usar a Bíblia (e toda a sua ambiguidade) para negar direitos civis a casais homoafetivos reproduz a mesma postura dogmática medieval que interditava às mulheres de partilharem dos mesmos direitos usufruidos pelos homens, amparando o discurso excludente em premissas bíblicas, indo da narrativa mítica do Jardim do Éden, no Velho Testamento à passagem da Mulher Adúltera do Novo Testamento.

UMA IMAGEM DIZ MAIS QUE MIL PALAVRAS


sábado, 27 de setembro de 2014

VOTE CONSCIENTE: Comunidade Carente, Zeca Pagodinho


Eu moro numa comunidade carente
Lá ninguém liga pra gente
Nós vivemos muito mal
Mas esse ano nós estamos reunidos
Se algum candidato atrevido
For fazer promessa vai levar um pau

Vai levar um pau
Pra deixar de caô e ser mais solidário
Nós somos carentes, não somos otários
Pra ouvir blablablá em cada eleição
Nós já preparamos vara de marmelo e arame farpado
Cipó-camarão para dar no safado
Que for pedir voto na jurisdição
É que a galera já não tem mais saco
Pra aturar pilantra
Estamos com eles até a garganta
Aguarde pra ver a nossa reação

AUTORIA: Marquinho Diniz, Luiz Grande e Barbeirinho do Jacarezinho

https://www.youtube.com/watch?v=aD2nxYJilsg


Salve Cosme e Damião


'Vinte e sete de setembro
Eu sempre me lembro
Não esqueço de dar
Cocada, paçoca, suspiro, pipoca,
Bolo, bala, bola, cuscuz e manjar'

FALANGE DO ERÊ

(Aluisio Machado, Jorge Carioca e Arlindo Cruz)


























https://www.youtube.com/watch?v=T2KGiLc0ETY

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

PÁGINAS DO BRASIL: O Pagador de Promessas

"Devem ser, aproximadamente, quatro e meia da manhã. Tanto a igreja como a vendola estão com as suas portas cerradas. Vem de longe o som dos atabaques dum candomblé distante, no toque de Iansã. Decorrem alguns segundos até que Zé-do-Burro surja, pela rua da direita, carregando nas costas uma enorme e pesada cruz de madeira. A passos lentos, cansados, entra na praça, seguido de Rosa, sua mulher (...) Zé-do-Burro vai até o centro da praça e aí pousa a sua cruz, equilibrando-a na base e num dos braços, como um cavalete. Está exausto. Enxuga o suor da testa".

O PAGADOR DE PROMESSAS - Dias Gomes


sábado, 13 de setembro de 2014

Legbaraiá ô!

Chega aos cinemas agora em setembro o filme 'Rio de Janeiro, Eu Te Amo', uma sequência de curtas-metragens ambientados na Cidade Maravilhosa, dirigidos por vários diretores, entre brasileiros e estrangeiros, e um grande elenco. Inevitável não lembrar da polêmica envolvendo a  Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, na pessoa do Cardeal Dom Orani Tempesta e o cineasta José Padilha (Tropa d Elite I e II, Robocop) diretor  de  'Inútil Paisagem' que traz o ator Wagner Moura como um instrutor de asa-deltas que num sobrevoo pela a Pedra Bonita medita sobre questões existenciais e desabafa com o Cristo Redentor, ato que foi considerado desrespeitoso pelos religiosos, ameaçando proibir o uso da imagem da estátua.

O que na sequência me levou a lembrar de outro episódio sobre os paradoxos e ambiguidades do Estado laico brasileiro e a sua relação com a Igreja Católica envolvendo a estátua do Cristo Redentor, dicotomicamente, monumento turístico, simbolo nacional, elemento da identidade carioca e imagem sacro-religiosa, no que diz respeito a proibição da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis desfilar com uma alegoria em seu carro abre-alas que reproduzia o monumento carioca, no carnaval de 1989.

O enredo desse carnaval foi o sugestivo 'Ratos e Urubus larguem a minha fantasia'


O atrito entre Estado e Igreja envolvendo a estátua do Cristo se deve pelo fato do monumento ter sido erguido numa área cedida pela União à  Arquidiocese do Rio , nos anos 1930. O acesso ao Redentor é feito através  do Parque Nacional da Tijuca, propriedade do Governo Federal. No caso do filme o Ministério da Cultura interveio e a Igreja Católica recuou e autorizou o uso da imagem.

Essa ingerência de setores ligados a grupos religiosos em manifestações artísticas tem retroalimentado o debate sobre a laicidade no Estado brasileiro.

A Beija-Flor que conquistou muitos títulos do carnaval carioca ultimamente, tem no desfile de 1989, o qual ela não se sagrou campeã, como um dos momentos mais marcantes de sua vivência no universo do samba.

Quando a escola de Nilópolis adentrou na avenida na manhã daquela terça-feira, 06 de fevereiro, o última vez que teria Pinah como  sua passista-destaque,  o público não podia imaginar o que estava por vir ( e faltava ainda o desfile da Império Serrano com um enredo sobre Jorge Amado, o primeiro samba de Arlindo Cruz na passarela). Querendo responder aos que lhe criticavam por sua estética suntuosa, com carros alegóricos colossais e fantasias exuberantes, no sentido de sua frase lapidar: 'quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta é de luxo', o carnavalesco Joãosinho Trinta e o seu 'do lixo ao luxo' encantou a plateia atônita com as alas de mendigos que invadiam a Marquês de Sapucaí. Nunca é de mais lembrar que o público estava ainda extasiado com o desfile da União da Ilha no dia anterior, na ressaca de um verdadeiro 'porre de felicidade que sacudiu  e zuou toda a cidade', versos inesquecíveis de Franco Lattari, um dos maiorais do samba de enredo da década de 80, autor de sete sambas enredos da agremiação insulana. Bujão e J. Brito também assinaram esse samba, cujo enredo era Festa Profana.




 Naquela segunda-feira, a Beija-Flor sucedia as coirmãs Portela, Unidos da Tijuca, São Clemente, Estácio de Sá, Unidos de Vila Isabel (que defendia o título) e a Imperatriz Leopoldinense que se sagraria campeã, numa apuração tete a tete com a mesma Beija-Flor. O enredo da alviverde de Ramos foi o seu antológico "Liberdade!Liberdade! Abre as asas sobre nós', que recentemente se tornou o primeiro samba de enredo a ser tema de abertura de uma a novela. 'Lado a Lado' da Globo.

Os excelsos representantes da Madre Igreja não admitiriam a associação da imagem do Cristo Redentor a uma festa mundana e libidinosa. "Carnaval, festa da carne!" diriam talvez, ecoando no silêncio das sacristias e esqueciam que o simpático Karol Wojtila, o Papa João Paulo II, em sua primeira visita ao Brasil, em 1980 lamentou o fato de não poder assistir a um desfile de escola de samba.

O chamado Cristo Mendigo, veio para a avenida coberto por um enorme plástico com os dizeres em letras garrafais 'MESMO PROIBIDO, OLHAI POR NÓS', iniciativa do diretor de carnaval  Laíla, e não do carnavalesco Joãosinho Trinta, como muita gente crê.

Mas o que mais me chamou a atenção nisso tudo, não foi a pendenga com o filme do Padilha, nem a implicância diocesana com o carnaval nilopolitano. E sim foi a justificativa do jurado de samba-enredo João Máximo, jornalista e crítico musical, que retirou o título merecidíssmo à Beija-Flor; ela e a Imperatriz Leopoldinense terminaram a apuração empatadas, ambas com 210 pontos e o quesito de desempate era o samba de enredo. A Imperatriz obteve 30 (dez barra dez) e a Beija 29, perdeu 1 ponto porque o citado jurado considerou que o refrão Legbara ô/ ô ô ô/ Legba ô Legabará/ laiá laiá, não tinha relação com o tema proposto, sem saber que os versos aludem a Exú, o donos das encruzilhadas, protetor do povo das ruas, também chamado de Legba, Legbara, Elegbara e Eleguara, tudo haver com o enredo, demonstrando o descompasso entre a cultura popular e os saberes afro-brasileiros e o pensamento elitista dos intelectuais que passou a dominar a festa popular (e eminentemente negra) que é o Carnaval carioca.

O citado jurado, por incrível que pareça, nos idos de 1966, foi um dos autores do livro 'O negro no Brasil', lançado no Festival de Arte Negra, em Gana.