segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O XEQUE-MATE EM AÉCIO NEVES

Não foram os nordestinos!

Foi a inabilidade de Aécio em fazer migrar pra si os eleitores de Marina Silva, somados ao desempenho pífio no estado do Rio de Janeiro (onde morou) , igualmente em sua terra natal  (onde governou por duas vezes, foi senador, fez do desconhecido Antonio Anastasia governador e agora, esse ano, senador), além de erros estratégicos pontuais durante a campanha, como por exemplo, o anúncio prévio de Armínio Fraga como futuro ministro (tiro de escopeta que saiu pela culatra), e outras apostas equivocadas que fizeram Aécio Neves perder a eleição. Não os eleitores dos estados nordestinos.

Se a diferença entre Dilma e Aécio foi de 3,4 milhões e o total de abstenções,  votos nulos e brancos somaram os expressivos 30 milhões (equivalente a dez vezes mais a quantidade de votos que o separou de Dilma), fica evidente que faltou ao candidato tucano argumentos convincentes para que esse montante de eleitores que não votaram nem nele e nem em Dilma, acreditassem em seu projeto de mudança e melhoria no cenário social brasileiro.

Culpar eleitores do Nordeste do país é atitude simplista (alem de preconceituosa) e ignora-se que a derrota de Aécio responde a muitos fatores. O resultado das urnas causa, aos perdedores, inevitável sensação de frustração, isso é comum e natural, mas, como demonstrou Sigmund Freud, um dos mecanismos do ego para lidar com a frustração é a agressividade.

Parafraseando o filósofo Epicuro: ' quer conhecer Fitocles? Deixe que ele experimente o amargo fruto da contrariedade'




Em tempo, o programa de transferência de renda condicionada que parece motivar a onda de intolerância aqui no Tucanistão, deveria ser motivo para uma votação mais irrisória do candidato psdbista, por coerência, oras, Aécio Neves anunciou por mais de uma vez nesse segundo turno que não só manteria o Bolsa Família, como ampliaria, além de, em meios a elogios, arrogar a paternidade do Programa ao seu partido.

 Nem todo nordestino recebe Bolsa Família, nem todo nordestino votou na Dilma, tem paulista, gaúcho, carioca, mineiro, catarinense, goiano que recebe.

Enfim, Aécio foi ineficaz em tirar proveito dos 38% de reprovação do Governo Dilma, registrado há quatro meses, em junho (o maior índice de seu mandato), e nem do desejo de mudança  de 70% de brasileiros, cravejado no fim do ano passado.

Não foram os nordestinos, Aécio.

domingo, 19 de outubro de 2014

TANCREDO ACABOU COM UMA DITADURA? Os papéis dos Neves durante o Regime repressivo e o de Dilma Rousseff


Sugestiva e apeladora (e apelativa) a montagem que corre redes sociais afora, com a emblemática frase de efeito : ‘Tancredo acabou com uma Ditadura, Aécio acabará com outra’, mas cabe uma reflexão sobre os papéis sociais exercidos por Tancredo Neves, o seu neto, Aécio Neves (atual candidato à presidência) e Dilma Roussef (adversária de Aécio no atual pleito) durante a vigência da Ditadura civil-militar no Brasil.

Por ter sido o primeiro presidente civil após a abertura política dos anos 1980, eleito por voto indireto (e pela aura que recaiu sobre seu nome dada a circunstância de sua morte e a comoção nacional por ela suscitada) a imagem de Tancredo Neves é associada, no imaginário popular, pelo combate a Ditadura Militar.

De fato, Tancredo integrou o MDB (partido oposicionista ao partido da situação, o ARENA) mas daí elevá-lo ao patamar de herói libertário é incongruente para alguém que jamais denunciou as atrocidades e arbitrariedades encetadas pelos militares, ocupando, durante o Regime, o que era chamada de ala moderada do MDB, os que na oposição evitavam atritos mais acirrados com os governistas.

Talvez essa proximidade com os militares explique a aceitação de seu nome a candidato a presidência em 1985 pelo Colégio Eleitoral, ou alguém teria a ingenuidade de acreditar que os militares permitiriam a indicação de algum ferrenho opositor do antigo Regime? Tudo que eles não queriam era a abertura dos chamados Documentos Secretos (o que ocorreu nos últimos doze anos, quando a elite deixou o Governo).

É emblemática a posição reticente de José Sarney (vice- presidente de Tancredo em 1985) relacionada a abertura dos arquivos secretos, declarando, recentemente, que era melhor deixar esses registros na condição de sigilo eterno: 'Não podemos fazer o WikiLeaks da história do Brasil', afirmou, o ex-presidente da República.

Com a instituição do bipartidarismo, em 1966, Tancredo Neves foi convidado a se filiar ao ARENA, convite recusado pelo fato de seu arquirrival Magalhães Pinto integrar as fileiras do tal  partido (e não porque a ARENA representava o Regime opressivo). No MDB (que daria lugar ao PMDB, com a abertura democrática), Tancredo Neves foi polido e amistoso com os generais-presidentes. Talvez essa relação amigável explique o fato de Tancredo ter sido um dos poucos aliados de João Gourlat a não ter os direitos políticos cassados pelos militares em 1964. Cabe lembrar que Tancredo fora nada mais, nada menos, que primeiro-ministro do governo Jango.

Tancredo Neves nunca entrou na clandestinidade, jamais integrou a luta armada, jamais sentiu na pele os torturantes choques de alta voltagem da opressão e da repressão. Dilma Roussef sim. Enquanto a atual Presidente da República estava na trincheira urbana lutando em prol da democracia e pelo fim da Ditadura. Onde estava Tancredo? Transitando confortavelmente pelos corredores palacianos naquele jogo de faz-de-conta que era a oposição oficial ao Regime Militar. E o neto dele? Onde estava?