domingo, 30 de março de 2014

Da série DA COR DO FUTEBOL: Tomo 2


A mais exata demonstração de incivilidade e atraso moral e espiritual, o Racismo, anomalia psicoafetiva, reverberado, ultimamente, nos cantos e cânticos das arquibancadas é apenas um eco de um racismo secular, sutil, impronunciado nas ruas de nossas cidades, no trânsito, nos restaurantes dos grandes chef’s, nas lojas de carros importados, nas feiras náuticas e congêneres.

Nas salas de reuniões de grandes executivos, nos salões de formaturas das melhores universidades públicas.

Na portaria dos edifícios de luxo, no hall de entrada dos grandes hotéis,

 Nas instituições bancárias e financeiras, nos orfanatos e a fila de crianças para a adoção.

A voz explicitada da geral dos estádios é a mesma voz, em âmbito privado, implicitamente, nos rádios comunicadores dos seguranças das redes de hipermercado e das viaturas do aparelho de segurança pública do Estado.


O ruído dos grunhidos onomatopaicos imitando o guincho de símios é o mesmo ruído que corre pelos corredores (na roupagem poética de sofismas) das agências de publicidade e das agências de emprego.

Comum ao fenômeno chamado comportamento de massa, onde a individualidade se dilui num todo e o individuo se oculta e se integra a um coletivo, a demonstração intolerante de discriminação racial e o preconceito de cor, reprimida pelas convenções sociais do Brasil que não admite tais manifestações se libera numa situação de homogeneidade de condutas.


Nunca será demasiado lembrar que a censura à exposição pública do racismo ditada por convenções sociais no Brasil não significa que a nossa sociedade não seja preconceituosa. Como diz, meu amigo Carlinhos Eletropaulo, o Brasil é o país do paradoxo.



Confira o Tomo 1 dessa série:

(Copie e cole no navegador) 

http://pordomoumagia.blogspot.com.br/2014/02/da-serie-da-cor-do-futebol-tomo-1.html

segunda-feira, 24 de março de 2014

Desde dos tempos idos


Na última semana de Dezembro que passou espocou nas redes sociais a prisão de dois policiais da UPP do Morro de São Carlos, no Estácio, Rio de Janeiro, por roubarem R$ 540,00 de uma mulher, que seria mãe de um traficante local. A cena do roubo em que um dos agentes do Estado enfia a mão no bolso da mulher, surrupiando a quantia, se alastrou em efeito viral na grande rede e serviu de prova inconteste para incriminação dos PM’s.

Veja o vídeo clicando no link abaixo:

Essa inversão de valores, onde agentes públicos que tem como função primordial evitar crimes, cometem-nos, reflexo da sensação de onipotência que vem junto a impostação da autoridade, o que no Brasil equivale ao ‘posso tudo, pois nada me atinge’.

Isso não é coisa de nossa época, não é exclusividade do agora, esses achaques vêm de tempos outros, de um Brasil Império, nas brumas de mil oitocentos e lá vai bolinha, conforme informa o historiador André Rosemberg, pesquisador do Departamento de Sociologia e Antropologia da UNESP, Campus Marília, no livro Chumbo e Festim - Uma História da Polícia Paulista no Sinal do Império.

Charge de Nani

Rosemberg relata o caso, dentre outros, de Amaro José Dias, membro do Corpo Policial Permanente, uma corporação que atuava nos limites estaduais, o que seria a Polícia Militar de hoje, e que, por sua conduta incorrigível fez com que o comandante-geral enviasse um ofício ao presidente da província de São Paulo (o governador dos dias atuais), pedindo para que o soldado Amaro recebesse a baixa da Corporação e ainda sugeria que ele fosse recrutado às Forças Armadas.


O policial era acusado de furtar um cordão de ouro e um relógio. Em sua fé de ofício, uma espécie de ficha pessoal, adicionavam-se casos de embriaguês em serviço, brigas, arruaça no desempenho da função, faltas injustificadas, contrabando de cachaça, insolência e insubordinação.

sábado, 22 de março de 2014

POSSÍVEIS DIÁLOGOS IMPROVÁVEIS


Tá se achando,é? Aproveita
Um dia eu te esqueço na gaveta...

Entre Fernando, Sorocaba e o Vibrador

sábado, 15 de março de 2014

(MÂNGATA) Saudades de quando, sentado na plataforma de pesca na Biquinha, admirávamos o rastro prateado da lua sobre as águas da baía de São Vicente.


Existem palavras que existem apenas em uma língua.
Assim como saudade só temos na Língua Portuguesa (e no galego também, língua falada na Galíza, fronteira entre Espanha e Portugal)
Pana po’o é um termo usado pelos havaianos para designar o ato corriqueiro de coçar a cabeça quando esquecemos algo.
Culaccino é uma palavra que só existe no italiano e é para nomear aquele círculo que marca a mesa quando se tira um copo gelado.
Você já caminhou por uma praia deserta ou um parque, ou um bosque e sentiu uma solidão. Essa sensação é chamada em alemão de waldeinsmkeit.
E aquela avalanche de respostas que vem depois que você saiu de uma discussão,os franceses chamam essa sensação de l’esprit d’escalie. É do francês também o popular dejá vú (pronúncia correta é dejá ví), literalmente,'já visto', que nomeia aquela sensação de ao viver algo sentir já ter vivido aquilo, também chamada de sensação de replay.
E aquela trilha que o reflexo da lua cria na água, aquela imagem tão poética, só tem um nome específico em sueco: mângata.


sexta-feira, 14 de março de 2014

A arte poética: NA PALMA DE MINHA MÃO




Tomai a si, oh, quiromante
Espalmada a minha mão
Cada ranhura espiralada
Jaz um verso, uma canção

Minha mão é minha alma
Fiel espelho do meu ser
Velha cigana vá com calma
Belas cousas há de ler

No pergaminho da epiderme
Versos em linha helicoidal
Concretismo biológico
Que resplendor... um recital

Lembra um mapa hidrográfico
Afluentes rumo à foz
Cada linha, cada verso
Em sinuosos caracóis

Konstantin Simonov
E o Catulo da Paixão
Também tem Éle Semog
Na palma de minha mão

Meireles e Kiril Kadiisky
Drummond e Mário Quintana
Domeneck e Leminsky
Recitava a velha gitana

quinta-feira, 6 de março de 2014

No Carnaval todo mundo é igual



Uma escola de samba desfilando na avenida diz mais do que o simples enredo proposto. Apresenta um retrato carnavalizado do Brasil.

O etnomusicólogo congolês Kazadi wa Mukuna, no último parágrafo de seu livro, Contribuição Bantu na Música Popular Brasileira, observa que durante o carnaval de 1976 no Rio de Janeiro percebeu que praticamente todos os destaques das principais escolas do desfile oficial eram mulheres brancas ao passo que a maioria na ala das baianas, no fim da escola, era de senhoras negras.

Se analisarmos com isenção perceberemos que hoje, 38 anos depois, vigora ainda uma divisão racial na estrutura da sequência das alas nas grandes escolas.

Com pontuais exceções, a suprema maioria de carnavalescos e presidentes (postos de decisão e de exercício do poder) das grandes escolas é branca.

As passistas são majoritariamente negras (ou mulatas, como querem alguns), contudo, o trono de rainha, o posto maior dentre as passistas, é ocupado por brancas, oriundas ou não do universo do entretenimento (atrizes, modelos, ex-BBB’s). Negras nesse posto só se forem do universo citado.

Escondidos atrás dos carros alegóricos, empurrando-os, a turma da merenda, o pessoal da energia, a ala da força (formam eles uma alegoria da massa trabalhadora, operários e proletários, do país composta em sua maioria de pretos e pardos) carregam no braço a opulência das agremiações e em cima dos mesmos carros, conforme Mukuna pontuara, os destaques brancos, muitos sem familiaridade alguma com a malemolência do bom samba. 

Imagem que remonta aos idos tempos da escravatura, dos palanquins de liteira com a senhora branca sendo carregada pelos servos negros.

 
Disparidade racial também no Carnaval  de rua da Bahia como explícita a imagem panorâmica de uma foto tirada de um helicóptero,  flagrando a massa de foliões, majoritários, brancos separados por uma corda de um contingente de maioria negra apenas assistindo.


E as baianas? Conforme Mukuna ressaltou, continuam sendo formadas em sua maioria por senhoras negras.