quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A miçanga todos a veem.
Ninguém nota o fio que, em colar vistoso, vai compondo as miçangas.



Também assim é a voz do poeta: um fio de silêncio costurando o tempo”.


O FIO DAS MISSANGAS,  Mia Couto

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

ENTREVISTA COM EMERSSON URSOO




















Batemos um papo esperto com o cantor e compositor paulistano Emersson Ursoo que está prestes a lançar o sexto CD de sua carreira. Ursoo é afilhado musical de Mestre Monarco e de Dona Ivone Lara, de quem também é parceiro. Confiram abaixo:




DOM OU MAGIA - Urso vem aí seu 6º CD, o que podemos esperar?

EMERSON URSOO - É um Cd que prima pelo sentimento "Música e amor" dessa vez eu venho menos político, menos porta voz das mazelas do meu país. Amor ao samba suas vertentes e personagens e o amor de casal. Cada vez mais cadenciada minha música vem seguindo a linha tradicional de sempre.

DM- E fale pra nós sobre as participações especiais que nos aguarda?

E.Ursoo - Teremos 10 participações, sambistas de São Paulo que admiro muito, atuantes da noite, militantes, defensores culturais.

DM – Como você enxerga o cenário do samba paulista?

E.Ursoo - O samba Paulista que eu e minha geração faz é mais inspirado nos mestres do samba carioca, crescemos ouvindo Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Delcio Carvalho,  Ivone Lara, Fundo de Quintal, Clara Nunes, Roberto Ribeiro e todos os compositores que eles gravavam. São Paulo não costumava ter artistas de Samba tocando em rádio e quase não se gravava disco aqui, então quem não tinha convivência direta com os sambistas daqui, como no meu caso até meus 30 anos, acabou tendo como referências sambistas de fora. Depois sim, frequentando as rodas de samba (Projetos e comunidades) a partir de 1999 (Clube dos Sambistas) aí sim, juntamente com outros sambistas, passamos a fazer um resgate dos nossos sambistas assim como incentivar os compositores a mostrarem suas obras. Esse movimento cresceu muito no início do século, distribuído em diversos bairros da cidade, hoje passam dos 200. O Samba cresceu, porém com um sentimento de união que veio estreitando e cada vez mais tem atingido sua meta. Hoje temos uma associação (ASTEC-SP) que está à frente trabalhando pelo samba da nossa cidade para que tenhamos mais organização, respeito e valorização. Nesse período de 15 anos desde o início do século surgiram diversos compositores e intérpretes que registraram em CD  suas obras e vozes, assim para as novas gerações terem uma boa referência de sambistas de São Paulo. O samba de São Paulo segue em constante crescimento, porém, não o samba tradicionalmente Paulista que é mais Rural, deste samba temos poucos representantes gravando, a referência maior ainda é o samba que se fez no Rio de Janeiro entre as décadas de 1940 e 1980.

DM- Algo que reparávamos é que era comum quando cantores paulistas gravavam cd’s, via de regra, convidavam sambistas cariocas para participarem do disco, mas não era algo recíproco, era raro bambas do Rio convidarem nomes do samba da Garoa para seus trabalhos, esse cenário tem se modificado um pouco nos últimos anos, alguns exemplos, o Monarco convidou o Tuco Pellegrino em seu último CD, o Nei Lopes escolheu a rapaziada do extinto Quinteto em Branco e Preto para acompanhá-lo na gravação de seu DVD, tem o belo trabalho da Cristina Buarque junto ao Terreiro Grande, e por falar no Terreiro e pra mostrar que a nova geração de sambistas cariocas também estão conectados com Sampa, o Gabriel Cavalcanti gravou um cd onde as maioria das faixas aparecem a dupla Roberto Didio e Renato Martins; a Dayse do Banjo em seu CD gravou um samba de Dadinho e Melão da Velha Guarda do Camisa. Essa visibilidade do samba paulista, no seu entendimento, seria um reflexo do trabalho das chamadas comunidades do samba?

E.Ursoo - Essas ações de resgate dos sambas antigos, dos sambistas defensores e mantenedores da tradição e o incentivo a amostragem do samba inédito foram os responsáveis por isso, logo, as comunidades são de fundamental importância. Principalmente a partir do final do século passado e inicio desse, o movimento se formou e não parou de crescer, inclusive se espalhando para todo Brasil. O movimento nasceu em São Paulo, que através dos projetos, comunidades e alguns bares, começaram a trazer os sambistas mestres para shows e homenagens. Aqui eles tinham e tem o devido valor reconhecido. E um trabalho totalmente fora da mídia, correndo por fora, com foco na cultura, no samba novo e na preservação das raízes. Os grandes sambistas começaram a notar que os compositores daqui faziam e fazem sambas, choros e outros gêneros genuinamente culturais no nível mais alto possível, herança dos próprios mestres que se foram e os que estão em atuação.

DM – Conte-nos um pouco de suas excursões pelo EUA e Europa.

E.Ursoo - Foi um presente do astral, nada planejado. Fui passar lua de mel com minha esposa lá na Florida e levei meu CD e meu cavaquinho. Chegando lá através de um amigo da minha esposa fui apresentado a um empresario que depois de uma audição gostou do meu trabalho e me convidou para tocar no hotel que gerenciava. O contentamento de ambas as partes e do público acabou abrindo as portas na terra do Tio Sam. Viajei por diversas cidades durante 3 anos, chegando a ir até 4x por mês pros Estados Unidos. Pra Europa a primeira vez foi por encomenda de um samba-enredo para uma escola de samba na Suíça, fui campeão e conheci muitas pessoas, acabei voltando pra tocar em bares brasileiros e fui a outras cidades e outros países europeus. Também fui ao Japão e África do Sul. O samba me levou pro mundo, e sempre defendi a obra autoral minha e dos meus parceiros.

DM – Partilhe conosco a experiência de compor junto com nomes lendários do samba.

E.Ursoo - Experiência fantástica, humildade dos mestres e sempre partiu deles, depois de gravar comigo, cantando algo meu com meus parceiros, depois de aprovarem as letras e melodias e ver que os sambas tinham uma linhagem nobre, assim como as deles, afinal me inspirava neles. Foi assim com Seu Jair do Cavaquinho, Argemiro, Delcio Carvalho, Luiz Carlos da Vila entre outros...

DM - Cite três sambas que não podem faltar numa roda de samba onde tenha Emersson Ursoo.

E.Ursoo - Saravá, Tem de tudo pra vender, Nossa Senhora Aparecida.







 

ZUELA DE OGUM


AUTORIA: Deley Antonelli e Ricardo Bispo

No cazuá de Dona Iaiá
De longe se ouve a zuela
Incensa o terreiro, acende a vela                      BIS
Oxalá abençoa o congá

O ilê já tá todo enfeitado
Com as folhas sagradas do meu Pai Ogum
Aroeira e também óleo pardo
Mariô desfiado e peregum
Vai ter xirê de Ogum Meje
Akorô, Ogunjá e Onirê
E no rum também vai tocar jeje
Pra invocar o sinhô Xoroquê

Firma o batuque aêêê
Iabassê mandou preparar
Feijoada, inhame no dendê                              REFRÃO
Ogunhê! Pai Ogum iremos saudar


sábado, 5 de setembro de 2015

MEU SAMBA É ASSIM: por Coletivo Arnesto





Nome: Ricardo Bispo dos Santos
Nome artístico: Ricardo Bispo
Data de nascimento: 28/10/1976
Natural da cidade de São Paulo – SP
Reside em Praia Grande – SP
Referências: (por ordem de influência) Nei Lopes, Paulo Cesar Pinheiro, Luis Carlos da Vila, Eduardo Gudim, Roque Ferreira, Santaninha, Delcio Carvalho, Geraldo Filme, Mestre Darci do Jongo e Barbeirinho do Jacarezinho.
Principais parceiros: (por ordem alfabética) Alabá, Alex Cardoso, Aluízio Neguinho, André Moraes, Charlie Dief, Emersson Urso, Juninho Mancuso, Marquinho Quebra-Corda, Nonô NG e William Fialho.
- Amor Nagô; Sincopando o Sincopado; Gurufim de Bamba; Cântico das Ninfas e Se bola de cristal tivesse zoom.

sábado, 25 de julho de 2015

ÀS MARGENS DO GUAPORÉ


Às margens do Guaporé
Vi Teresa de Benguela
Com seu colar de urucum
Das rainhas, a mais bela

Às margens do Guaporé
Vi Teresa de Benguela
Colhia o que arou pra si
Batata doce e brinjela

Às margens do Guaporé
Vi Teresa de Benguela
Repartia o que colhia
Não plantava só pra ela

Às margens do Guaporé
Vi Teresa de Benguela
Disfarçada de nenúfar
Flor de haste amarela

Às margens do Guaporé
Vi Teresa de Benguela
Orando para Angana-Zambi
Por seus filhos na favela

Às margens do Guaporé
Vi Teresa de Benguela
Com a fibra do guelengue
Da impala e da gazela

Às margens do Guaporé
Vi Teresa de Benguela
Com seu riso buliçoso
Feito um samba da Portela

Às margens do Guaporé
Vi Teresa de Benguela
Fui às terras angolanas
No versar de Pepetela

Às margens do Guaporé
Vi Teresa de Benguela
Entoando uma cantiga
Em quicongo e ganguela

Às margens do Guaporé
Vi Teresa de Benguela
Ganhando muito pataco
No jogo da bacatela

Às margens do Guaporé
Vi Teresa de Benguela
Com vigor que emprestaria
A Luther King e Mandela


Do livro Espelho opaco de Narciso, 2014, Ricardo Bispo, Editora Clube de Autores












Em homenagem ao Dia Nacional de Tereza de Benguela e que desde 1992 , em iniciativa da ONU, comemora-se o Dia da Mulher Negra da América Latina e do Caribe.





No carnaval de 1994 a Unidos do Viradouro trouxe o enredo "Tereza de Benguela, uma rainha negra no Pantanal".

quinta-feira, 28 de maio de 2015

QUEM NÃO SABE REZAR...

A Bahia fervia em sagrados louvores no Pelourinho.

Junho chuvoso.

Era a trezena de Santo Antônio (na verdade era o tríduo, pois eram três dias e não treze, porém, sabemos que baiano é um povo assuntado).

Antes da procissão sair, na hora da ladainha em honra à Santa Maria, as santas beatas já estavam mais aporrinhadas que xerelete no anzol.

A pendenga era o povaréu, mais acostumado com atabaques do Opofonjá do que os castos sacramentos da Madre Igreja.

Eram mais chegados a uma mumunha pra Ossãe do que uma ladainha pra São Lázaro.

Mais ligados na fila festiva para os comes-e-bebes do olubajé com os quitutes servidos na folha da mamoneira (e tudo pra ser comido com a mão) do que a fila circunspecta e contrita da eucaristia, com a sua hóstia e um tiquinho de vinho. Uma merreca. Monsenhor Alípio, sovinas, colocava sangria pros fiéis bebericarem, ao passo, que ele sorvia um tinto do Porto, direto da Vila Nova Gaia, às margens do Douro.

E o povão, sincreticamente, fervia. Bolinho de acará mergulhado no dendê borbulhante já virando acarajé.

E pra indignação das velhas beatas, a massa estava mais pro bom iorubá do que pro lírico latim, e foi nessa que a turba repetindo, o Frei Cosmo, pároco, representante da Diocese de Salvador, na ladainha em honra à Virgem Maria:

 "Regina Coeli, Aleluia, Regina profetarum

  ( e em vez de profetarum, fizeram ecoar um: bofetarum)".

Era só o prenúncio do furacão. Procissão iniciada. Louvores a Santo Antônio, o Santo Casamenteiro.

Teve beata que quase infartou quando chegaram no trecho da ladainha que diz assim:

"Agnus Dei qui tollis peccata mundi".

Do povão se fez ouvir, em uníssono:

"Agnus dê clitóris peccata mundi".

E Monsenhor Alípio, lívido e estarrecido, virou-se e bradou taxativo uma frase lapidar.

- QUEM NÃO SABE REZAR, XINGA A DEUS!!! (E assim nascia a expressão popular)


Ricardo Bispo

terça-feira, 12 de maio de 2015

Salve o 13 de Maio

'Vou pra Valença, pra Fazenda São José
Vou pra Valença, pra Fazenda São José
Vou pedir a bença, véio cumba tem axé
Vou pedir a bença, véio cumba tem axé'

MACHADO!

- Jongo de Valença (Ricardo Bispo)





Salve o 13 de Maio.

Salve Jongueiro!






sábado, 2 de maio de 2015

LÚCIO SANFILIPPO E LUIZ ANTÔNIO SIMAS - Eu já colaborei e você


O Projeto será realizado no ano de 2015, no Rio de Janeiro, viabilizando a finalização do Dvd comemorando 21 anos de uma carreira de valorização da identidade cultural brasileira e a gravação de 2 Cds inéditos.
     
O Dvd é composto de show ao vivo gravado no Sesc Nova Iguaçu em agosto de 2013, com participação da Companhia de Aruanda, além de documentário sobre a carreira e a ligação do artista com as culturas populares. Ainda conta com extras de artistas parceiros como Ana Costa, Moyseis Marques, Razões Africanas e Marina Iris;
      
Um Cd com músicas inéditas compostas pelo próprio Lucio Sanfilippo;
  
Um Cd com músicas inéditas compostas pelo escritor, historiador e Babalaô Luiz Antônio Simas.
 


O trabalho do artista está ligado diretamente ao Samba, Jongo, Maxixe, Maracatu, Ciranda, Coco, bem como ritmos de origem iorubana ( Ijexás, Aguerés e Alujás), trazendo para o público um pouco da produção popular do universo Afro Brasileiro.

20.000,00 (vinte mil reais) - Com este valor pagamos a finalização do Dvd - Cordel, Flor e Canção. Mixagem, Masterização, Prensagem, Design gráfico, Direitos autorais, Produção Executiva...Parte do custo do Projeto.
 
35.000,00 (trinta e cinco mil reais) - Com este valor pagamos a finalização do Dvd - Cordel, Flor e Canção e gravamos o Cd inédito  Lucio Sanfilippo canta canções de Luiz Antônio Simas. Gravação, Mixagem, Masterização,  Design gráfico e Produção Executiva. 
 
50.000 (cinquenta mil reais) - Com este valor pagamos a finalização do Dvd - Cordel, Flor e Canção + Cd inédito  Lucio Sanfilippo canta canções de Luiz Antônio Simas + Cd autoral de Lucio Sanfilippo. Gravação, Mixagem, Masterização,  Design gráfico e Produção Executiva.
Copie e link abaixe, cole em seu navegador, tire suas dúvidas no site da Benfeitoria e contribua pelo bem da cultura brasileira.
http://benfeitoria.com/luciosanfilippokit21_


segunda-feira, 27 de abril de 2015

A barca de Omulu



Autoria: Janaina de Souza e Ricardo Bispo
  
Quando eu me transformar
No sopro da brisa da manhã
E meu corpo alquebrado, cansado
Prostrado nos braços de Nanã
Deitado no leito da terra
Tornando-se parte da terra
E nos portais do Orum
Ogum, que é o dono da guerra
Me abençoar por tantas batalhas vencidas, perdidas
Jamais desertadas

Vem do infinito vazio
No rio da eternidade azul
O leme trançado com palha da costa              REFRÃO
Ás águas da vida, na proa que encosta.
A barca de Omulu
A barca de Omulu
  
Quando eu me transformar
No sopro da brisa da manhã
E os medos e sonhos se decomporem
E as imagens no brilho dos olhos se forem
Nos brandos ventos de Iansã
Há finitude no pranto
Na brevidade do encanto
E nos portais do Orum
Oxum com delicado manto
Vier me abraçar
Nos mares de Odoyá
Há a paz de Oxalá

Vem do infinito vazio
No rio da eternidade azul
O leme trançado com palha da costa              REFRÃO
Ás águas da vida, na proa que encosta.
A barca de Omulu
A barca de Omulu

quinta-feira, 23 de abril de 2015

PIZINDIM

"Pizindin Pizindin
Eu nunca vi garoto tão esperto assim
Trocou o carrinho pelo cavaquinho
Rodou pião tocando um bom flautim
Tirou o couro da bola e pôs no tamborim
O seu pique-esconde foi com um bandolim..."

Pixinguinha completaria hoje 118 anos
Ricardo Bispo