Foi emblemático o
desdobramento do que ficou conhecido como o ‘Caso Grafite’ quando o zagueiro
argentino Desábato recebeu voz de prisão ao sair de campo, em pleno Morumbi,
acusado pelo crime de racismo, assim que o juiz apitou o fim da partida entre
São Paulo e Quilmes, pela Copa Libertadores da América, em 2005.
Segundo o atacante
brasileiro, num lance de jogo, o argentino o teria ofendido, xingando-o de ‘negro
de merda’.
Emblemático porque
trouxe à tona a questão do preconceito de cor nas relações futebolísticas no
Brasil.
Mais emblemático ainda foi o apontamento de Luis Felipe Scollari, sobre o caso. À época treinador da Seleção de Portugal e em visita ao Brasil, Felipão disse que a prisão de Desábato fora um exagero, que dentro do gramado há coisas piores e que são meras provocações sempre na tentativa de se desestabilizar o adversário.
Segundo Ronaldo Helal, pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), num estudo sobre a rivalidade futebolística entre Brasil e Argentina, após uma estadia em Buenos Aires pesquisando, concluiu que a animosidade é mais forte do lado
tupiniquim. Os hermanos, ao contrário, admiram mais do que odeiam o futebol
brasileiro. Sobretudo a 'alegria de jogar' dos brazucas, imortalizada pela imagem
mítica de Garrincha e Pelé e retroprojetada em jogadores como Cafu, Ronaldinho Gaúcho,
Robinho (e porque não Neymar, à época da pesquisa um desconhecido).
Meses depois do jogo entre São Paulo e Quilmes, as seleções de Brasil e Argentina protagonizaram a final da Copa das Confederações na Alemanha, com uma sonora goleada do escrete canarinho. 4x1 em cima da Argentina de Aymar, Riquelme, Sorín e Tevez. Em matéria do jornal Olé, o articulista Marcelo Sotille sentenciou, lançando luz sobre o quesito 'alegria' dos brasileiros como um diferencial dentro de campo:
Meses depois do jogo entre São Paulo e Quilmes, as seleções de Brasil e Argentina protagonizaram a final da Copa das Confederações na Alemanha, com uma sonora goleada do escrete canarinho. 4x1 em cima da Argentina de Aymar, Riquelme, Sorín e Tevez. Em matéria do jornal Olé, o articulista Marcelo Sotille sentenciou, lançando luz sobre o quesito 'alegria' dos brasileiros como um diferencial dentro de campo:
“(…)Bailando con sus mejores sonrisas, cantando ante ojos extraños
como un grupo que se divierte sin que los rivales le saquen la pelota. Porque
son así, son profesionales del juego bonito, Y en la cancha suelen mostrar los
dientes... (Olé, 30 de junho de 2005)”.
Voltando ao 'Caso Grafite' Helal compartilha a repercussão na imprensa
esportiva da Argentina sobre a prisão do zagueiro do Quilmes, destacando os populares Olé e Clarín:
"As matérias sobre o “caso de racismo” do
jogador Desábato chegaram às primeiras páginas dos jornais argentinos e o tom
era de indignação pelo exagero da punição. Havia fotos do jogador algemado e
manchetes sob o título “Vergonha” (Clarín, 15 de março) e “Inferno no Brasil”
(Olé, 15 de março)".
Helal percebeu que o
uso frequente do termo ‘macaquito’ empregado pela imprensa e atletas portenhos,
embora cristalize estereótipos e traga uma aditivo de preconceito, tem uma
conotação puramente provocativa, ciosos de que isso incomoda os brasileños. O
macaquito seria o equivalente do maricón, contrapartida usada pelos jogadores
brasileiros para irritar os argentinos. Assim como um brasileiro ao provocar o
adversário chamando o de maricón, alusão a vaidade dos argentinos com suas
cabeleiras vastas atadas a rabos-de-cavalo ou arcos, ou tiaras, não acredita que de fato, o
oponente é gay, e só o faz por provocação, o mesmo se dá com as mofas dos argentinos.
Voltando à fala de
Felipão sobre ‘Caso Grafite’, o treinador coloca à plateia de jornalistas a
pergunta ‘querem debater racismo no futebol? Quantos craques e bons jogadores
negros já tivemos no Brasil? Muitos ou poucos?’
Felipão mesmo responde e encaixa outra pergunta (inquietante e incômoda pergunta) ‘tivemos muitos e agora respondam, quantos técnicos negros estão à frente de algum grande time brasileiro?
Felipão mesmo responde e encaixa outra pergunta (inquietante e incômoda pergunta) ‘tivemos muitos e agora respondam, quantos técnicos negros estão à frente de algum grande time brasileiro?
’
REFERÊNCIAS:
HELAL, Ronaldo, Como eles nos vêem - futebol brasileiro e imprensa argentina, Revista Contemporânea, UERJ,2005,disponível: http://www.contemporanea.uerj.br/pdf/ed_04/contemporanea_n04_07_RonaldoHelal.pdf