Fernando Queiroz é
filho de um dos homens mais ricos e influentes de São Vicente. Um jovem que
sempre se incomodou com o fato de ter do bom e do melhor, enquanto muitos mal
tem o que comer. Num belo dia resolve largar as mordomias da mansão de sua
família e decide ir catar papelão com um carroceiro do México-70.
Um verdadeiro espetáculo bordava de cores o
céu azul da favela. Pipas com suas extensas rabiolas. Adernavam... Adornavam...
Bailavam na imensidão tendo como fundo-de-cena tiras de nuvens-algodão
semelhantes à clara de ovo batida em ponto de neve e respingada pela gema
dourada do sol.
FOTO: Bernado Tabak/ G1 |
Jardas e jardas de linha-10 desenrolavam-se
dos carretéis estendendo ao longe pipas, cartolinhas e papagaios num sonho de
liberdade. A cada debicada elas curvavam-se no ar, altaneiras, balançando a
cauda como cometas de papel crepom. De repente duas delas se estranharam no
alto. Enlaçaram-se. Enroscaram-se. Duelaram-se. Duas capoeiristas ao som dos
ventos berimbaus. A linha de uma delas, mais afiada, de súbito, retesou-se.
Revestida por uma camada de pó de vidro e goma rompeu o elo vital da pipa rival
que flutuou, sem vida e sem encanto, igual a uma folha que o outono poda dos
arvoredos.
Empunhando enormes varas de bambu, a
meninada em disparada afluía da Rua Dois, da Rua Seis, da Rua Cinco, do Trevo,
da Rua do Meio, como caçadores de balão, convergiam ao Campão. Pés no chão de
barro, olhos no céu de pipas.
- Tá
acordado, moço? – estranhou Beto, ao encontrar Nando desperto. Beto
demonstrava sobriedade num indício de que o álcool e seus teores vaporizaram-se
em meio ao reboliço efervescente da paixão.
O texto
acima é um trecho do romance Nando pelas ruas do México-70, de autoria do
colunista dessa página e de seu pai Antônio Bispo. A previsão de publicação é
do 2º semestre de 2014.
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