domingo, 22 de dezembro de 2013

NEVOU NO MORRO





Noite de natal...
Patamo no morro, cercaram o Borel
O do gorro vermelho não era saci, era Papai Noel
Com soldado-de-chumbo e aviãozinho passando papel

-O que tem nesse saco? Seu véio veiaco
Não adianta fugir
- Eu só tenho presente
Eu sou inocente, pra que vou mentir?
O gordinho deu no pé
Subiu a chaminé e saiu vazado
Mas os veados deixaram na mão
E no trenó sozinho ele tava cercado
Mas foi sonoro o tapa
Que aquele velhinho levou
-Me responda que farinha é essa?
-É neve lá do Pólo Norte, doutor


“Jingle Bell” bate o sino da sirene
Joga o papel que a polícia chegou                                       REFRÃO
Olha a calma vovô, 
Quem não deve não teme

 AUTORIA: Ricardo Bispo, Pakito e Delei do Banjo   















sábado, 7 de dezembro de 2013

ARTE POÉTICA: A Substância da Metáfora


O que será da metáfora
desprovida de sua referencialidade?
Nada, assim como nada, sou eu
sem o seu sorriso imanente
e sem o silêncio loquaz que se interpõe
no intervalo que há entre um e outro beijo
e o hiato que se eterniza brevemente nesse silêncio

Metáfora não é ornamento textual na concretude das palavras
A metáfora é transcendência, palavras em orgasmo,
 aspecto visível e corpóreo do riso das estrelas
a metáfora é um pássaro ébrio hesitando em voar

Com palavras descrevo a realidade
 e com silêncios, redescrevo-a 

quem discernirá a metáfora inscrita implicitamente no silêncio de meu mundo



Samba do bom

'Teu corpo tem cheiro de sangue
Teus lábios tem gosto de fel
Teu peito tem lodo do mangue
Princesa dos quartos de hotel"

COISA RUIM DEMAIS

Samba lindo de Ivor Lancellotti e João Nogueira

Princesa dos quartos de hotel (Belo eufemismo pra palavra 'puta')

João Nogueira, gênio da música brasileira

Curta essa obra-prima no link abaixo:

http://www.sambaderaiz.net/o-homem-dos-quarenta-joao-nogueira/

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) acatou denúncia da Associação Brasileira de Difusão do Livro e de alguns consumidores a cerca de uma peça publicitária da Vivo sobre o serviço de Internet Fixa, produzido pela agência DPZ. Conforme denúncia o filme veiculado na Tv e na internet desmerecia o valor social e cultural do livro ao exibir uma cena em que um livro é usado como mero acessório para ajustar uma criança ao assento de uma cadeira em frente ao computador, passando a mensagem de que com o acesso à internet os livros como fonte de saber seriam dispensáveis.


Segundo a relatora do processo, Conselheira Nelcina Tropardi, ao justificar seu voto, embora o anúncio retrate cenas do cotidiano de muitos lares, a publicidade nesse caso deveria adotar uma postura mais conservadora, já que é inegável que o brasileiro lê muito pouco e que o anúncio reforçava, ainda que indiretamente, esse triste panorama. Ainda em seu voto, que foi acolhido por unanimidade, a relatora recomendou a alteração do conteúdo do filme.

DESMANCHA CASÓRIO


 Ela é de extremecer, ela gosta de dançar
Dança mambo, dança tango
Mas seu ramo é sambar
Faz em mim um fuzuê
Quando bota pra quebrar
No olhar uma ternura, na cintura um bambolê
O cavaco ou a viola chora ao seu bel-prazer

Quando ela requebra, cumpadre
É um pega pra capá
Marmanjo se acotovela só pra ver o seu gingar
Vai descendo de mansinho
E o burburinho é notório
Com essa cara de santinha

Desmanchou muito casório

AUTORIA: Ricardo Bispo


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

PÃES, PÃES, PÃES, Ó, PÁ!

 Seguindo o hábito de todas as manhãs, o molecote adentrou a panificadora, sentindo o prazeroso e inconfundível aroma de café-expresso sendo servido na copa, saindo fresquinho, fumegante, e o cheiro de pão da última fornada, quentinho e crocante. Hum! Inigualável e saboroso cheirinho de manhã. Ao chegar a sua vez na fila, rente ao balcão, pediu como de costume:

- Me vê seis pãos!

O dono da padaria, o Seu Pedro Baltasar, português nato, vindo da Póvoa de Varzim, cidade ao norte na amada terrinha, se espevitou. Ergueu-se de sua escrivaninha, de onde estrategicamente monitorava as funcionárias do balcão, em presteza e eficiência entre baguetes e broas, mensurava a quantidade de pingados de cafés-com-leite e as doses de biritas que o rapaz da copa servia, além das camadas de Doriana que passava no pãozinho na chapa, e de onde, também, podia (e adorava) vigiar a moça do caixa contando a bufunfa que entrava e a que saía em troco. Não admitiria nunca, jamais, um brasileiro macular a pureza de seu idioma. Avançou furioso, contornando o balcão como Fernão de Magalhães a contornar o estreito no extremo sul da América. Sua pança protuberante, designer de regalos e gulodices, se assemelhava ao bumbo do Zé Pereira, e arfando, e babando, e bufando, estourou:

- Não são seis pãos e sim seis pães. Pães! Brasileiro burro. Apedeuta.  Pobrezinha da língua-mãe, pobrezinha. Brasileiros, assassinos de idioma. É culpa de Cabral, oras, pois, é culpa de Pedro Álvares! - Berrava, ora mirando o pobre do rapaz, ora mirando a imagem da Sagrada Família na prateleira da padaria. De família tradicional, católico fervoroso da tradição do Concílio de Trento, fora batizado com o nome Pedro em homenagem ao padroeiro de sua cidade natal, o apóstolo pescador e o Baltasar era referência e reverência a um dos Reis Magos.

O garoto, rosto corado, deixou o recinto carregando os pães, Esquecia-se sempre que o portuga da padaria era um cri-cri com esse negócio de se falar corretamente, prestimoso com a língua vernácula, porém no dia seguinte ao chegar a sua vez na fila... Novamente:

- Vou levar seis pãos!

- Seis pães. Pã-es! Pê-a-til-é-esse!!! Pães e não pãos! – corrigia Seu Pedro, zeloso como um Eça de Queiroz para com o padrão culto de nosso linguajar e continuava a ladainha, falando com os fregueses na fila em seu sotaque da região do Porto, apontando ao rapazote- É assim aqui, nessa terra do cão. Oh, seus meus patrícios soubessem o quanto tenho penado aqui onde Judas perdeu as ceroulas. Mortadela pr’sse povo é mortandela, salsicha é salshisha e toucinho de porco é bacon. Brasileiros de merda. Povo de merda. Desrespeitam a sagrada língua. Lapsus linguae!

Envergonhado o garoto saiu, levando consigo os pães e ódio, muito ódio de Pedro Baltasar, o mais ferrenho defensor da Última Flor do Lácio. Jurava não mais cometer tal gafe, mais pela ridicularização na frente dos outros do que por razão outra. O que afetaria a ordem do universo se pronunciasse pãos ou pães?  O sabor do pão não seria o mesmo? O preço também? 

O lusófilo bem que podia arquitetar uma promoção e oferecer um desconto aos fregueses que seguissem a norma culta da língua que tanto prezava, pensou com seus botões. Mas no dia seguinte não houve juramento que o acautelasse dos deslizes nas concordâncias e discordâncias nominais. Os berros de Seu Pedro, que avançava feito um Eusébio, bola aos pés , invadindo a grande-área, deixou isso bem claro:

- Ai ai, e olha que hoje acordei com os pés de fora, não me venhas com galhófas. Quantas vezes estarei a te dizer, gajo, que o plural de pão é pães. E é tudo culpa de Cabral, é culpa de Cabral. Povo burro! Burro e preguiçoso. Isso é preguiça. Brasileiro diminui tudo com preguiça de falar, motocicleta virou moto, fotografia virou foto, cinemateca virou cinema e discoteca virou baile. Ó pá!


Na fila sempre havia um ou dois que concordavam com o dono da padaria e sempre tinha alguém que ria, mas a maioria não gostava daquela cena, não. Até porque eram todos brasileiros e o Seu Pedro generalizava, pegando pesado, ofendia os brazucas. Tinha gente preferindo andar uns quilômetros a mais até outra padaria a ter que ouvir aquelas sandices.

“Que portuga folgado, sai lá da Ibéria, come seus bacalhaus lá e vem peidar aqui”, resmungou um homem engravatado.

“Esse luso gordo vem pra cá, enriquece às nossas expensas, do dinheiro que damos e também à custa dos empregados que explora e fica ai xingando nós, brasileiros”, murmurou um velho sarará com boné desbeiçado do Flamengo.

O rapaz pensou em bolar uma resposta, e das boas, ao portuga pão-duro. Já estava  enfezado com aquela prosopopeia toda. Porém, na manhã seguinte deixou a padaria com os pães sob o aguilhão das imprecações do lusófono intransigente. Elaborara uma resposta, mas assustou-se com sobressalto do Português indignado, dando o seu piti matinal. Seu Pedro gritava e ao mesmo tempo  mirava a imagem da Sagrada Família, para que lhe amparassem.

- Oh, mar salgado quanto do teu sal são lágrimas de Portugal! Brasileiro não presta. Por isso que esse país não vai pra frente. Nem falar direito consegue. Distorce tudo, deturpa tudo, e gostam de enfeites e penduricalhos. Acham que palavra é carro alegórico, já reparaste que o brasileiro fala 'adivogado' e não o corretamente advogado - lamentava-se o brioso portucalense.

No outro dia o jovem perfez o caminho de casa à panificadora repetindo mentalmente qual mantra budista: pães, pães, pães, e, recitou tanto o mantra que estava quase alcançando o nirvana na fila do pão. Seu Pedro não o pegaria mais em cacoépias: pães, pães, pães, olhava com um olhar búdico pro portuga, pães, pães, pães, estava chegando a sua vez, pães, pães, PÃOS!!! (foi o que balbuciou quando chegou ao balcão), força do hábito, vazou automaticamente. Apagou-se a luz celestial do nirvana, bem-vindo de volta ao sansara.

- Assim irei aos arames! És pães, filhote de ameba! Ó povinho burro, ó pá! E não é só falando, não, na escrita também, encomendei uns cartazes aqui para a minha padoquinha e olha que o letrista fez , escreveu maisena com ‘z’, que calinada! E em vez de escrever muçarela, escreveu foi mussarela e sem dizer dos que chegam aqui e pedem duzentas gramas de salame. Só se for gramas de feno, bando de asnos. Duzentos gramas! É assim que se fala! Bradava o guardião de todos lusoparlantes. Herói camoniano. - Brasileiros de merda. Ainda fazem anedotário dos portugueses, dizem que português é que é o burro, ó pá. É tudo culpa de Cabral.

- Mas maisena não é com ‘z’? Indagou alguém da fila, um dos que anuíam com a implicância do portuga sobre a prosódia da língua materna.

- Não, com ‘z’ é só na marca de uma embalagem, aliás, maisena, não, amido de milho. Por obséquio!

Com ar desafiador o garoto interrompeu. Não mais levaria desaforo pra casa:

- Brasileiro burro, é? Saiba que meus avós são portugueses – revelou–lhe. 

Isso não amainou nem um pouco a fúria de Seu Pedro. A ira de um mar encrespado.

- Rebeubéu, pardais ao ninho! Ah, vás chatear o Camões, avô português? Só se for açoriano. Só pode ter vindo dos Açores, ó pá! Brasileiros de merda, povinho sem futuro. Tanto lugar para Cabral ancorar nesse mundo de Deus e foi para nesses confins! Exclamava olhando ao céu, lastimoso, como um ator numa peça de gilvicentina.
                       


“Tá tão lanhado com o Brasil, volta pra Lisboa”, pensou um senhor, que seria o próximo da fila.

“Culpa de Cabral é um escambau”, deixou escapulir uma senhorinha de cabelo lilás, lá atrás.

“Esse portuga balofo podia fechar esse troço e ir dar aula de Português nas escolas, né”, rezingou uma mulher, que já demonstrara inquietação, consultando as horas no visor do celular de minuto em minuto. Chegaria atrasada no serviço por causa dos chiliques de Seu Pedro.

Enfim, chegou o dia 'D'. O rapaz cansara de engolir quieto, já tava fula-da-vida, não ia mais passar carão na frente de senhor-ninguém. Ah, aquele lusitano sovinas dançaria o fado em suas mãos. Chegou ao balcão e pediu de propósito: - Quero meia dúzia de pãos!

 Seu Pedro Baltasar, o sangue ibérico a fervilhar- lhe à mente, saltou, em seu faniquito habitual, como todas as manhãs, igual a um cachorro pertinaz, que incansável e obstinadamente, avança ao portão, a latir para o carteiro, todos os dias.

- Apedeuta. Brasileiro burro. Pães e não pãos! Já te disse milhões, trilhões de vezes.

O rapaz pegou o pacote de pães, mas estancou, mirando o estressado português.

- Que foi rapagão, o que queres mais, porquê essa cara de caso, ora, pois?

- Estou com uma dúvida – o jovem ensaiava um sorriso traquinas no canto da boca.

- Diga logo, cabeça de alho chocho. Desembucha aí, ó pá!

E o que o menino diria faria a fila do pão e os funcionários da padaria vibrarem como um drible da vaca do Neymar em cima do Cristiano Ronaldo. E faria Seu Pedro Baltasar ter vontade de correr feito de D. João VI fugindo de Napoleão e suas tropas.

- Eu não sei se mando o senhor tomar no cu, nos cus ou nos cuães.


Inspirado nas piadas do amigo Daniel Corte, o stand-up sentado na cadeira

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Coisas do Futebol - os cartolas e seus coelhos mágicos


Da série: UMA IMAGEM VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS


A CONMEBOL, acata o pedido do São Paulo, veta o estádio da Ponte Preta que comporta quase 17 mil torcedores na semifinal da Sulamericana e como justificativa alega que o regulamento da competição prevê o mínimo de 20 mil na torcida, e libera, pro jogo da outra semi-final, o chiqueirinho do Libertad que cabe só 12.000. Será que é porque o nome do estádio em Assunção é Nicolás Leoz?


E vem a FIFA, após o show do Cristiano Ronaldo contra a Suécia pela repescagem das Eliminatórias Europeias para a Copa do Mundo, ano que vem aqui na Terra brasilis, e adia o anúncio do prêmio de melhor do mundo, alegando que está findando o prazo e pouca gente votou

(Corre à boca pequena que pouca gente votou no Cristiano Ronaldo, o midiático R7 ).

E mais: quem já votou, se quiser, pode entrar no site e alterar o voto.


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Consciência Negra



"E é perante o mapa-múndi
Que o racista se confunde
Eis o mistério do Atlas
Desnorteado, ele viu
 que o mapa do Brasil
Com o da África se encaixa"

MISTÉRIO DO ATLAS, trecho de um samba de Ricardo Bispo

Valeu Zumbi o grito forte dos Palmares

Balé Afro de São Vicente

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

CONSCIÊNCIA NEGRA: Nos Terreiros do Brasil

"E apesar dos contratempos
Perseguições, mil preconceitos
Essa gente de valor não sucumbiu
No ilá do orixá o brado de Zumbi repercutiu]

Brilha um quilombo nos terreiros do Brasil
Brilha um quilombo nos terreiros do Brasil"


Ile Axé Opô Afonjá, Bahia, Brasil















Nos Terreiros do Brasil, samba de Ricardo Bispo

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

CONSCIÊNCIA NEGRA: UMA IMAGEM DIZ MAIS QUE MIL PALAVRAS



AUTORIA: Nei Lopes e Cláudio Jorge

Em luxuosos transatlânticos
Os negros vinham da África para o Brasil
Gozando de mordomias faraônicas
Chegavam aqui com ar fagueiro e juvenil
E mal desembarcavam lá no porto
Com todo conforto
Em luxuosas senzalas iam se hospedar
Tratados a pão-de-ló, comendo do bom e do melhor
Levavam a vida a cantar
Lalaiá laia, lalaiá laiá, laia laia laia
Nos campos e nas cidades
Nos tempos que não voltam mais
Reinava a mais perfeita harmonia
Tudo era alegria, amor, carinho e paz
Até que exóticas ideologias fizeram o cativeiro acabar
Mas a índole mansa e pacífica
Dessa gente magnífica fez o negro se recuperar
Hoje no Brasil da liberdade
Onde tudo é igualdade
Sem distinção de raça e nem de cor
O negro agradecido ergue aos céus o seu louvor
Ô ô ô ô! Ai que saudades dos carinhos do feitor
(Obrigado Isabel)


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

CONSCIÊNCIA NEGRA: 'No Brasil todo mundo diz que conhece alguém racista, ou já presenciou algum caso de racismo, porém ninguém diz que é racista. Há algo errado'. Florestan Fernandes


"Se reparares, não estranhes
Nessa noite o céu cingido de estrelas lúcidas
Na dança das constelações
Entre nuvens de algodão e imponderáveis sonhos
Embaladas pelos ventos peregrinos
Embaladas pela melodia de uma canção... de um samba-canção
Não estranhes se o luar cintilar como o sorriso de um anjo

É que esse cintilar prateado feito sorriso angelical
Essas nuvens feitas de sonhos e algodão
Esses ventos peregrinos... esse céu cingido de estrelas
É uma canção, um samba-canção que Délcio Carvalho
Compôs ao chegar no céu"

Descanse poeta dos versos celestiais
A tinta de sua caneta era de quimera
E sua mente movida pela essência de sonoridades sublimes

Descanse amigo!





UMA IMAGEM VALE MAIS DO QUE MIL PALAVRAS


terça-feira, 12 de novembro de 2013

COROA PIRIGUETE



A vovó tá de amargar
Que coroa piriguete
Tá bombando na internet em um efeito viral 
(toda sexy e fatal)
Com um codinome ‘cat’
Ela anda pintando o sete numa rede social
(um download bem legal)
Fez tatuagem no cóccix
Abusou do photoshop num retrato digital
(um olhar bem sensual)
Tá virada num ciclone
Até já pôs silicone, fez enxerto labial (na moral)
“Quer um jovem bem ardente/ Carinhosa e experiente”:
No dizer do seu mural (em seu cantinho virtual)

A vovó quando vai pra balada
Deixa a abalada a jovem concorrência
A mulherada sarada, alinhada
Ficando abismada sem ter audiência

Ela arrasa lá no baile funk,
No show do Skank, pagode e forró
Tá chovendo de ‘neto’ carente
Querendo a vovó


Autoria: Ricardo Bispo

ALMA LITERÁRIA




sexta-feira, 1 de novembro de 2013

CATARINA DA MALACA




Catarina da malaca tá fazendo mó fuzarca
No ensaio lá da Vila
A bruaca é de assustar
Parece com a mistura de Shrek e Godzila

As passistas têm corpo de violão
Tira a concentração de qualquer marmanjo
Mas Catarina não dá não, olha que situação
Ela parece um banjo
E quando toca sua malaca, ai meu Deus do céu
Ela fica com a macaca, se acha a pop star
Qualquer homem ela ataca, se atraca
A jabiraca tá ruim de aturar

Ô ebó mal despachado, rascunho de anhangá
Sai pra lá, dá três pulinhos
Não nasci pra carcará

Catarina da malaca tá...                            


O rapaz do repenique já deu tremelique
E o do surdo de primeira tá com tremedeira
Catarina cata tudo
Ainda mais, se sobretudo o rapaz for batuqueiro
E quando toca sua malaca, ai meu Deus do céu
Ela fica com a macaca, se acha a pop star
Qualquer homem ela ataca, se atraca
A jabiraca tá ruim de aturar

Ô ebó mal despachado, rascunho de anhangá
Sai pra lá, dá três pulinhos
Não nasci pra carcará



    AUTORIA:   . Glemerson Liberato e Ricardo Bispo   




MUSICANDO




quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Pombajira baixou na festa de Halloween, já dizia, Ruy Quaresma, kkkkkkkkk

A Múmia, o Drácula, um Fred Krueger e um bando de mortos-vivos dançavam o créu, o tchan e o tchetchere tchêtchê. O Lobisomem bebia cuba livre e ponche. Já um sujeito de capuz preto e máscara do filme Pânico atacava de Red Label com Redbull entremeados a doses de Jurupinga.

A atração era Juca Pitoco, lenhador de bonsai, um anão em carrara esculpido o cantor Belo (ou escarrado e cuspido).  Juca Pitoco, conhecido também como Hobitt, era lindo e belo como o pagodeiro Belo. Tingira a cabeleira de ruivo, passou gel cola, vestiu um macacãozinho e virou o Boneco Chucky.

Olhem lá, o Brinquedo Assassino fazendo o quadradinho de oito, gritou Iara, fantasiada de Morticia, da Família Adams, de repente, ela girou sobre os calcanhares, tremelicou os ombros, puxou a barra da saia e soltou uma gargalhada ruidosa, assombrosa, tenebrosa, horripilante (idem a gargalhada que encerra o clipe de Thriller, do Michael Jackson), porém numa versão em voz feminina.

Quanto perna-de-calça, hehe! Quanto macho bonito, hahaha! Exclamou rindo sua risada medonha. Arrancou o cigarro da mão do Coringa do Batman, cerrou a guimba com os dentes e a cuspiu longe. Deu uma longa baforada no marlboro sem filtro. E uma longa, longa risada.

O jogo de luz que a equipe de Dj's instalou lançava feixes de luz estroboscópica -  é o clarão daquele pisca-pisca que parece nos deixar em câmera-lenta, tudo em sincronia com o globo luminoso rítmico que alternava suas cores acompanhando o batidão funk.

Que isso Iara? Que isso Morticia? Perguntou um carinha fantasiado de Eddy,o mascote dos metaleiros do Iron Maiden.

Ah, seu broxa, aqui não tem Iara. Eu sou a Pombajira Sete Ventos, hahuhahahuhuhaha!!! Aquela gargalhada thrilleriana.

Com as mãos na cintura se dirigiu aonde estava o Jack da Lanterna (a famosa abóbora do Halloween). Na mesa, envolvendo crânios de plástico, estendiase como enfeite, uma bela guirlanda de rosas vermelhas. A 7 Ventos apanhou a mais vistosa e prendeu numa madeixa de seus cabelos negros Cabelos mais negros que a asa de um morcego.

Os Dj's obedeceram quando ela fez um sinal para que parassem a música. Rodou o salão com a mão na cintura,  fazendo caras e bocas, bebendo champanhe e tragando marlboro sem guimba. De repente, não mais que de repente, estancou, gargalhou e cantou o ponto:

"Pombajira quer tomar chochô
Pombajira quer tomar chochô"

E só foi embora quando trouxeram chochô para ela bebericar (depois de horas para descobrirem que chochô era banha feita de óleo de coco).

*Inspirado no samba 'Pombajira Halloween', de Nei Lopes e Ruy Quaresma.


Bem, sobre o que eu penso de nós brasileiros comemorar uma festa folclórica norteamericana está resumido na letra desse samba aqui embaixo, autoria de Nei Lopes e Ruy Quaresma.
Ao lado do Quaresma., autor de Cavaquinho Camarada, gravado pela Beth Carvalho e de Sempre a Sonhar,  com Martinho da Vila, gravado pelo próprio Martinho.

Eu bem que sabia que um belo dia
Isso ia acabar mal
Esse olhar de descaso
Chamando de atraso
A cultura nacional
Humilharam, pisaram, pintaram e bordaram
E olha só qual foi o fim:
Pombajira baixou no Halloween
Pombajira baixou no Halloween
Tinha até website de gótico e dark
Pra chamar coisas ruins
Até analfabeto era heavy metal de jaquete James Jeans
Tinha até sepultura lá na cobertura
E olha só qual foi o fim:
Pombajira baixou no Halloween
Pombajira baixou no Halloween
Eu bem que sabia que...
Marafo long neck, curimba em playback
Ela veio mesmo assim
Mas quando deram um break
Ela viu que era fake
Tudo fashion, tudo teen
Foi então que a cigana rodou a baiana
Riscou fogo no estopim
Pombajira baixou no Halloween
Pombajira baixou no Halloween

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Em breve o lançamento de meu primeiro livro de poesia ESPELHO OPACO DE NARCISO

Aguardem!

Diego Costa deu as COSTAS para o Brasil. E daí?

Tudo bem que o cara é o atual artilheiro do Campeonato Espanhol (aquele campeonato que todo ano só tem 2 favoritos ao título, menos empolgante que o Paulistão ou a Taça Guanabara). Mas penso que foi desnecessário a convocação prévia do atacante do Atlético de Madrid (com o pretexto fajuto de agilizarem o visto de entrada para o jogo nos EUA, e convocaram também outros jogadores pra disfarçar, mas todos sabem que na verdade a Comissão Técnica da Seleção queria sinalizar ao Diego Costa que ele fazia parte dos planos, uma vez que, era crescente os murmúrios acerca de sua adesão à Fúria Espanhola, assim como foi desnecessária também a declaração do Felipão criticando a decisão do jogador. O silêncio seria muito mais constrangedor para ele.

O Brasil não precisa disso. O Brasil não precisa dele. Até um ano atrás ele era um ilustre desconhecido, coadjuvante de Falcão Garcia no timeco do Atlético (terceira força do Campeonato Mineiro, uma espécie de América Mineiro, ops, desculpe, Campeonato Espanhol).

Tudo bem que o Fred está machucado e que temos apenas o Jô, já que Luis Fabiano e Leandro Damião não atravessam boa fase e o Alexandre Pato (... bem, o Pato é melhor deixar pra lá).


Esse tal de Diego Costa, além de encrenqueiro, é um Túlio Maravilha melhorado. Um William Bartoré melhorzinho. Você ter um Diego Costa, um Túlio Maravilha, um Alan Kardec, um William Bartoré  e um Super Ézio (lembram dele?) para escolher é o mesmo que ter 5 potezinhos daqueles de exame de fezes, o que diferencia um do outro, é apenas a etiqueta com o nome.


 A Espanha precisa dele. A Espanha  precisa disso, de apelar para jogador naturalizado. Craque lá é raridade. Soldado, Negredo, David Villa, atacantes nível Figueirense e Paysandú. O Diego Costa fez certo. Eu no lugar dele (e com o futebolzinho dele) faria o mesmo, pois saberia, que as chances de ser titular da amarelinha seriam remotas

ALMA LITERÁRIA


terça-feira, 29 de outubro de 2013

Seu Leitão Fanfarrão, o Forreste Gump do Irajá

 
O ator Dan Stulbach, Tom Hanks brasileiro

No partido-alto, “Ganzá do Seu Leitão”, coautoria de Cleber Augusto, Nei Lopes sintetiza na personagem principal, tanto a memória de seu pai, Luiz Braz, como a de sua mãe, Dona Eurídice Leopoldina, além de Dayr, conhecido por Noco, um de seus irmãos mais velhos.

Ouça o samba na voz de Roberto Ribeiro aqui: http://grooveshark.com/#!/search/song?q=Roberto+Ribeiro+O+Ganz%C3%A1+do+Seu+Leit%C3%A3o
Os elementos afetivos recolhidos em seu núcleo familiar, compostos de narrativas e vivências dos “mais velhos” embutidas nas recordações de infância são os ingredientes de Nei Lopes para confecção de quadros musicais do passado. Daí a historicidade que permeia sua produção musical (Coisa da Antiga, Epopeia de Zumbi, Tempo de Dom Dom, Sapopemba e Maxambomba, Goiabada Cascão, Compadre Bento e outros).
O recurso de identificar um agente social do passado na figura de um antepassado, depositário de vivências e visões de mundo legadas à posterioridade, atua como fio condutor para que o eu lírico de Nei Lopes crie um vínculo indissolúvel (consaguinidade, descendência) entre presente e passado, sendo o “hoje”, herança e consequência direta do “ontem”, o que introduz a pessoa do narrador ao discurso. E que opera para uma noção de integração e sentido de pertencimento, legitimando de forma incontestável sua denúncia sobre a  opressão e exclusão (muitas vezes sutil) dos negros na sociedade brasileira.
A figura do “mais velho” é uma simbologia e exerce a função de instrumento ideológico para a construção e afirmação identitária, encadeando fatos históricos - dando vazão à afetividade das recordações, em forma de canção num “rejunte” para a consolidação da identidade. Conviveu, ele, em sua infância no Irajá, subúrbio do Rio, com gente que havia vivido a escravidão e que contavam causos do tempo do cativeiro. Acervos vivos de uma história valiosíssima. Nessa viagem ao passado longínquo em busca de uma ancestralidade africana, Nei resgatará nessas pessoas a memória de sua ascendência negra familiar, a qual não pode conhecer pessoalmente. Raízes profundas de sua árvore genealógica. Negras raízes de um baobá.
Sobre esse aspecto, Cosme Elias, autor de uma tese de Doutorado sobre a obra de Nei Lopes, pontua: “É uma referência mítica, arquitetada no sentido de afirmar uma identidade, construir um ambiente imaginário em que a figura do mais velho se apresenta como sustentáculo desse ‘ser’ carioca e principalmente negro”

O Seu Leitão do samba é uma espécie de Forrest Gump, “O contador de histórias”, personagem vivido por Tom Hanks no cinema em 1994, o que lhe rendeu um Oscar e um Leão de Ouro como melhor ator. A produção também ganhou essas estatuetas como Melhor Filme e Robert Zermerkis, Melhor Diretor, além de outras tantas premiações. “O contador de histórias” é uma fábula moderna, baseada no romance homônimo de Winston Groom. Forrest se torna protagonista e testemunha ocular de eventos marcantes da história norte-americana do século XX: combateu na Guerra do Vietnã, participou, ao lado de Broadway Joe, da campanha vitoriosa do Alabama, campeão do futebol americano em 1961; integrou a seleção dos EUA de tênis de mesa; conheceu John Lennon e o inspirou a compor “Imagine”; foi recebido na Casa Branca por vários presidentes, como Lyndon Johnson, John Kennedy e Robert Nixon, com este último vivenciaria o famoso “caso Watergate”; conheceu Elvis Presley e as tentativas estabanadas de Forrest em dançar, dificultado pelos aparelhos que usava nas pernas, inspiraram os movimentos tresloucados que depois consagrariam o Rei do Rock.
Se a saga de Forrest abrange quase 4 décadas da história estadunidense, a do Seu Leitão, cobre 6 décadas da nossa história, pois a narrativa inicia no ano da Abolição da escravatura, quando o protagonista nasce e se encerra em 1950, com o “Maracanaço”. Esse samba é também uma fábula moderna. Seu Leitão pegou a gripe espanhola, andou em bonde de burro, participou das lendárias rodas de samba e pernada na Praça Onze; folião infatigável foi figura proeminente nos ranchos carnavalescos Ameno Resedá e o Kananga do Japão, que antecederam às escolas de samba; e assim como Forrest foi ao front, combateu nas duas Grandes Guerras, e brilhou também nos desportos, foi zagueiro da Seleção Brasileira em 1938 na Copa  da França e na copa seguinte, realizada no Brasil presenciou o fiasco do time nacional.
Em depoimento ao jornalista Fernando Faro, Nei Lopes revelou que seu pai nasceu em 1888 e era íntimo de Santos Dumont (íntimo não por amizade e sim por contemporaneidade), o que Nei transporta para sua personagem nos versos “Seu Leitão nasceu no ano em que acabou a escravidão/Conheceu Doutor Alberto, o inventor do avião”, na mesma estrofe ele afirma que Seu Leitão “viu o enterro do Barão” e no mesmo depoimento ele conta a Fernando Faro que sua mãe lhe falava sobre o enterro do Barão do Rio Branco.
Nei manuseia as lembranças de sua infância como um metódico historiador a garimpar fontes documentais em um arquivo. Suas memórias emocionais são de fato a matéria-prima para a base textual de muitas de suas criações musicais.

Ainda o samba em análise, Nei Lopes menciona a Oswaldo Faustino, seu biógrafo, que seu irmão mais velho, Dayr, esteve na 2ª Guerra Mundial, assim como o protagonista do samba, o presepeiro Leitão: na Segunda Grande Guerra deu três tiros de canhão”.
Apesar da semelhança entre as epopeias de Seu Leitão e de Forrest Gump, cabe a ênfase da originalidade e anterioridade do samba do Nei, gravado por Roberto Ribeiro em 1983. O romance de Winston Groom só seria publicado em 1986. Nei Lopes reeditou esse samba dividindo os versos com o MPB-4, no álbum De Letra & Música, em 2001.

Ouça a versão com Nei Lopes e MPB-4, aqui:http://www.sambaderaiz.net/de-letra-e-musica-nei-lopes/

Extraído do livro “O ABC de Nei Lopes, o samba na aula de História”, a ser publicado, do mesmo autor desse artigo.
Autor: Ricardo Bispo
REFERÊNCIAS:
ELIAS, Cosme, O samba do Irajá e de outros subúrbios. Rio de Janeiro: Pallas, 2005, página 124 
FAUSTINO, Oswaldo, Nei Lopes, Retratos do Brasil Negro. São Paulo: Selo   Negro, 2009, páginas 98  a 102.

 FILHO, Rubens Ewald , O Oscar e eu, São Paulo: Cia Editora Nacional, 2003.


LOPES, Nei,  A música brasileira por seus autores e intérpretes, Vol. 8. CD nº 8 – SESC, São Paulo (Tv Cultura de Programa Ensaio de 2003 - Entrevista realizada 11/11/2003 por Fernando Faro).