Uma escola de samba desfilando na avenida diz mais do que o simples enredo proposto. Apresenta um retrato carnavalizado do Brasil.
O etnomusicólogo congolês Kazadi wa Mukuna, no último parágrafo de seu livro, Contribuição Bantu na Música Popular Brasileira, observa que durante o carnaval de 1976 no Rio de Janeiro percebeu que praticamente todos os destaques das principais escolas do desfile oficial eram mulheres brancas ao passo que a maioria na ala das baianas, no fim da escola, era de senhoras negras.
Se analisarmos com isenção perceberemos que hoje, 38 anos depois, vigora ainda uma divisão racial na estrutura da sequência das alas nas grandes escolas.
Com pontuais exceções, a suprema
maioria de carnavalescos e presidentes (postos de decisão e de exercício do
poder) das grandes escolas é branca.
As passistas são majoritariamente
negras (ou mulatas, como querem alguns), contudo, o trono de rainha, o posto
maior dentre as passistas, é ocupado por brancas, oriundas ou não do universo
do entretenimento (atrizes, modelos, ex-BBB’s). Negras nesse posto só se forem
do universo citado.
Escondidos atrás dos carros
alegóricos, empurrando-os, a turma da merenda, o pessoal da energia, a ala da
força (formam eles uma alegoria da massa trabalhadora, operários e proletários, do país composta em sua
maioria de pretos e pardos) carregam no braço a opulência das agremiações e em
cima dos mesmos carros, conforme Mukuna pontuara, os destaques brancos, muitos
sem familiaridade alguma com a malemolência do bom samba.
Imagem que remonta
aos idos tempos da escravatura, dos palanquins de liteira com a senhora branca sendo carregada pelos servos
negros.
E as baianas? Conforme Mukuna ressaltou, continuam sendo formadas em sua maioria por senhoras negras.
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