Sinto a sua falta
como a flauta sente do
sopro
Como o mar sente do
leme da canoa que passou
e lá longe atracou
Como um cego, não de
nascença, sente da luz
Sinto a sua falta como
o fogo ou a música
sente do ar para se
propagar
Como um catavento em
sua haste solitária
sente da brisa mais
inibida
Como a flor sente do
néctar
que a abelha-operária sugou
Sinto a sua falta como
o ouro do Zambeze
sente das águas de
aluvião
Como a mata hostil
sente da sinfonia de pássaros canoros
Como um encanto feito de
origami
sente dos hábeis dedos do
artífice
Sinto a sua falta como o
bloco de granito
sente das partículas do
quartzo
Como o espelho sente
a ausência do seu
sorriso delicado
Como um corpo em óbito
sentira esvair-se todo o elan vital
Sinto a sua falta
Maluca. Moleca. Sapeca
Fingindo baforadas de
cigarros imaginários
Ao expulsar vapores
quentes de seus lábios inimagináveis
Em noites densas invernais