Sugestiva
e apeladora (e apelativa) a montagem que corre redes sociais afora, com a
emblemática frase de efeito : ‘Tancredo acabou com uma Ditadura, Aécio acabará com outra’, mas cabe uma reflexão sobre os papéis sociais exercidos por
Tancredo Neves, o seu neto, Aécio Neves (atual candidato à presidência) e Dilma
Roussef (adversária de Aécio no atual pleito) durante a vigência da Ditadura
civil-militar no Brasil.
Por
ter sido o primeiro presidente civil após a abertura política dos anos 1980,
eleito por voto indireto (e pela aura que recaiu sobre seu nome dada a
circunstância de sua morte e a comoção nacional por ela suscitada) a imagem de
Tancredo Neves é associada, no imaginário popular, pelo combate a Ditadura
Militar.
De
fato, Tancredo integrou o MDB (partido oposicionista ao partido da situação, o
ARENA) mas daí elevá-lo ao patamar de herói libertário é incongruente para alguém
que jamais denunciou as atrocidades e arbitrariedades encetadas pelos
militares, ocupando, durante o Regime, o que era chamada de ala moderada do
MDB, os que na oposição evitavam atritos mais acirrados com os governistas.
Talvez
essa proximidade com os militares explique a aceitação de seu nome a candidato
a presidência em 1985 pelo Colégio Eleitoral, ou alguém teria a ingenuidade de
acreditar que os militares permitiriam a indicação de algum ferrenho opositor
do antigo Regime? Tudo que eles não queriam era a abertura dos chamados Documentos
Secretos (o que ocorreu nos últimos doze anos, quando a elite deixou o Governo).
É
emblemática a posição reticente de José Sarney (vice- presidente de Tancredo em
1985) relacionada a abertura dos arquivos secretos, declarando, recentemente,
que era melhor deixar esses registros na condição de sigilo eterno: 'Não podemos fazer o WikiLeaks da história do Brasil', afirmou, o ex-presidente da República.
Com
a instituição do bipartidarismo, em 1966, Tancredo Neves foi convidado a se
filiar ao ARENA, convite recusado pelo fato de seu arquirrival Magalhães Pinto integrar
as fileiras do tal partido (e não porque
a ARENA representava o Regime opressivo). No MDB (que daria lugar ao PMDB, com
a abertura democrática), Tancredo Neves foi polido e amistoso com os
generais-presidentes. Talvez essa relação amigável explique o fato de Tancredo
ter sido um dos poucos aliados de João Gourlat a não ter os direitos políticos cassados
pelos militares em 1964. Cabe lembrar que Tancredo fora nada mais, nada menos,
que primeiro-ministro do governo Jango.
Tancredo
Neves nunca entrou na clandestinidade, jamais integrou a luta armada, jamais
sentiu na pele os torturantes choques de alta voltagem da opressão e da
repressão. Dilma Roussef sim. Enquanto a atual Presidente da República estava
na trincheira urbana lutando em prol da democracia e pelo fim da Ditadura. Onde
estava Tancredo? Transitando confortavelmente pelos corredores palacianos
naquele jogo de faz-de-conta que era a oposição oficial ao Regime Militar. E o
neto dele? Onde estava?
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